quarta-feira, 23 de novembro de 2011

FILME MUITO DENSO

Porto Alegre tinha quase quarenta cinemas. Não era o tempo dos xópi. Um dos programas principais eram as salas da então chamada sétima arte.
O povo em geral, como ainda hoje, gostava dos filmes comuns, sem grandes conceitos ou pensamentos embutidos. A intelectualidade, ou a falsa intelectualidade, gostava de filmes escuros, cheios de idéias diferentes do cotidiano, e de preferência de ideologias de fora, que nada tinham a nossa realidade.
Assim, que os filmes na verdade eram grandes porcarias, que ninguém entendia nada, mas ficavam todos com vergonha de confessar a ignorância, ou pelo menos a aparência de ignorância.
Na saída do cinema, as pessoas saiam em silêncio, e ao serem indagadas sobre o filme diziam em tom grave: - ótimo filme, muito denso. Na verdade, não tinham entendido lhufas.
Este tipo de filme, alcunhado de não comerciais, ou seja, são aqueles filmes que ninguém vai ver, ainda são exibidos em salas especiais, onde os frequentadores se comportam da mesma forma que os nossos amigos dos anos 70, nas saídas das antigas salas gigantescas de nossos falecidos cinemas.
Deus nos livre de criticar algum diretor preferido da turma, como Costa Gravas, só para citar um exemplo. Você seria tachado na hora de ignorante, reacionário e conservador, inimigo do povo, e adversário da boa cultura.
Eu que não tinha nada com isso, e não ligava à mínima para o patrulhamento ideológico, me divertia - e ainda me divirto - muito com isso.
O mais pitoresco é que a maioria daqueles meus colegas revolucionários são hoje profissionais e empresários reacionários e muito mais conservadores que eu, pois não mudei em nada minha linha ideológica.
E, continuo apreciando o verdadeiro bom cinema.

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