domingo, 28 de junho de 2009

QUOSQUE TANDEM?

Estava, como sempre o faço, tentando relacionar antigos textos clássicos com a história contemporânea, quando achei em Satiricon de Petrônio, comédia provavelmente escrita em I d.C, onde ele narra a sociedade romana não oficial, mas com o olhar crítico nela. O texto que pincei poderia ter sido escrito hoje, principalmente observando-se o que acontece em Brasília.
Vejam só: " Que podem as leis se o ouro é o senhor absoluto?/ E se a pobreza jamais consegue triunfar?/E até mesmo aqueles que ostentam o magro alforje dos Cínicos/ Muitas vezes por belas moedas negociar a verdade."
Puxa vida, será quem em dois mil anos o homem não deu jeito? O dinheiro continua sendo senhor absoluto de tudo. Os pobres continuam na miséria. E os cínicos continuam a trocar dinheiro em troca da verdade que sepultam.
Quando teremos no Senado um Marco Túlio Cícero a bradar:
"Quosque tandem, Sarney, abutere nostra patientia? " ( Obviamente no texto original lia-se Catilínea no lugar de Sir Ney)

TRISTE FAMA DE REI MIDAS

Conta a mitologia que, provavelmente na Macedônia, vivia o Rei da Frigia, o qual recebeu em recompensa de Dionísio o dom de transformar tudo em ouro. Midas ficou muito feliz, pois teria todo o ouro que nunca nem mesmo ousara sonhar. Foi efêmera sua alegria, haja vista que ele não podia nem pegar um alimento para levar à boca que este já se transformava em ouro. Ninguém, sequer, podia se aproximar dele, pois ao tocá-lo gente, animais e coisas se transformavam no nobre metal.
Desesperado pediu a Dionísio que esse desfizesse o encanto, tendo sido então aconselhado a se banhar na nascente do Páctolo, o que efetivamente o fez, se livrando, para sempre, do aludido e enganoso dom.
Aqueles que têm o dom descrito na lenda do Rei Midas de fazer riquezas quase sempre merecem mesmo este afastamento das pessoas, pois quase sempre as razões não são muito santas.
O problema é quando a pessoa tem a fama, mas não tem o dom. Paga por uma fama falsa, com a qual jamais contribuiu. Ela porta a fama de auto-suficiência, levando seus conhecidos e afetos a pensar que não precisa de nada, quando, na verdade, tem carência não só materiais, mas principalmente afetivas de vivência com outras pessoas, as quais dela se afastam em função desta fama de transformar em ouro tudo o que tocam.
Esta verdadeira síndrome tem deixado muita gente triste, numa injustiça flagrante. Sempre é bom um exame apurado da situação, não se fazer valer somente das aparências, ou do que fulano ou beltrano dizem. Eles também podem não ter boas razões.

sábado, 27 de junho de 2009

NOTÍCIAS SEM DIPLOMA

1. A morte de Michael Jackson é acima de tudo uma lição para a vida: como estragar uma bela história.
2. O desaparecimento para sempre da grande maioria dos passageiros e tripulantes do voo da Air France dão a noção exata da história sem fim.
3. As palavras ofensivas de Lula Lá ontem no RS sobre a atuação da polícia dão a noção exata do que é governar fora da realidade.
4. O uso da doença de Dilma como propaganda eleitoral demonstra como se pode chegar ao fundo do poço em matéria de ética.
5. O apoio do Nosso Líder a reeleição do iraniano demonstra que em política os fins justificam os meios, mesmo que sejam os mais sórdidos.
6. A exigência da OAB de exame de ordem para os formados em Ciências Jurídicas e Sociais é muito pior do que a dispensa de diploma para os não jornalistas.
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Nota: em homenagem a vitória da democracia e da liberdade de expressão, doravante, chamarei minha notas sobre os assuntos do cotidiano de NOTICIAS SEM DIPLOMA, no lugar de ANTENA. Tambem deixarei de numerá-las, haja vista que tal numeração se mostrou inútil, e de inútil basta o Senado.

QUATRO SORRISOS

No último dia 14 de maio, estivemos em São Jerônimo para comemorar os 51 anos de minha irmã Ivone. Ocasião rara nos últimos anos, onde estávamos reunidos os quatro irmãos, filhos do seu Zezé e de dona Zoí (Anselmo e Zenoir Vaz).
Como se vê pela foto, não somos muito parecidos uns com os outros. Um puxa mais para a ascendência européia outros para os antepassados índios, mas o fato é que não podemos dizer que existem dois parecidos, exceto quanto ao largo e franco sorriso, que apareceu muito nítido na foto.
Poderia fazer aqui uma piada com os 51 anos da Ivone e a cachaça 51, mas não vou fazer. Até porque não acho a Ivone parecida com cachaça, entendo que ela mais se aproxima de um vinho verde. Um dos melhores vinhos que existem, de origem portuguesa, entre nós foi conhecido principalmente pelo chamado Calamares. Então, por que é poucos divulgado e pouco consumido? Porque tem um paladar diferente, e é dado a poucos conhecer a qualidade dele.
A Ivone é exatamente assim, é preciso conhecê-la bem para entender de suas qualidades. Uma pessoal leal, e sobretudo sincera. Uma grande personagem para se ter como amiga, mas é uma péssima idéia tê-la como inimiga. Ivone não é para iniciados.
Parabéns pelos 51 anos.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O NOSSO PINDUCA


Nos quarenta anos de tabelionato, vi passar muitas figuras interessantes. Uma delas foi um cidadão que era cunhado do tabelião titular. Era um homem de 70 anos, alto, não muito gordo, elegante, principalmente representada pela cabeça raspada, o que era muito raro naqueles tempos. Era uma careca polida, brilhante mesmo. Hoje não chamaria tanto a atenção, pois os jovens estão usando muito esta moda de raspar a cabeça integralmente.
Ele estava sempre de terno, elegantes e bem cortados. Usava inclusive uma túnica à moda Mao Tse Tung, aquelas com gola redonda e fechada no pescoço. Só não era azul, era cinza. Somente este fato já seria uma atitude corajosa, pois vivíamos tempos bem anticomunistas, e ter qualquer identidade com o mundo vermelho, que não fosse colorado, era bronca certa. Mas, o nosso personagem não ligava à mínima.
Os sapatos eram de cromo alemão, comprados na Loja Randak, gosto que por algum tempo imitei, até que a loja desapareceu. O cinto sempre combinando com o sapato. Este quase sempre marrom, quando não bicolores. É você leu bem: bicolores, ou seja, duas cores, sendo uma delas sempre branca. Camisas sempre brancas, e gravatas italianas, bons perfumes, fechavam o figurino.
Sei pouco sobre sua vida particular, consta que fora Chefe de Polícia, estando nessa época já aposentado.
Era aficionado do turfe. Quanto lhe perguntava se ganhava muito respondia secamente: não jogo para ganhar dinheiro, e sim para me divertir. Acho que era verdade. Naquela época existia um cidadão que já estava quatorze anos na presidente do Jockey Clube, foi aí então que este meu colega foi convidado para ser candidato de oposição. Ele foi eleito. Renunciou, para a surpresa de todos. Muitos anos mais tarde outro presidente do Jockey me contou que ele chegou lá e viu todas aquelas contas para pagar e levou a sério. Pegou o chapéu e saiu despacito. Continuou freqüentando o Jockey, mas somente na condição de sócio.
Ele tinha algumas excentricidades muito interessantes. No verão, muitas vezes, saia de sua sala somente de meias, a circular pelo corredor do cartório. Às vezes, fazia citações com personagens bíblicas que inventava, tais como: - Caim, Caim, por que mataste teu irmão Abel?
Um dia ele apareceu com um copinho fininho e pequeno do tipo que se toma vodca. Perquiri: o senhor anda bebendo vodca? Não sabia deste seu gosto, pensei que o senhor bebesse somente uísque. Ele respondeu de pronto: mas, é mesmo para tomar uísque. Retruquei, mas e o gelo? Ele acabou com o meu questionário de ignorante: - não uso gelo, isso é uma heresia, não tomo on the rocks, somente puro, com o copinho estreito não sinto o cheiro, logo não salivo, e aí não ponho água a estragar a pureza do Scoth Whiskey.
Era um homem culto, mas tinha alguns gostos interessantes em matéria de cultura. Certa vez me viu lendo Histórias Extraordinárias de Edgar Allan Poe, e ficou todo interessado, já querendo saber onde eu tinha conseguido aquele exemplar tão novinho.
Um homem muito organizado e metódico tinha uma letra muito bonita, a qual demonstrava toda a sua personalidade. Costumava debochar da minha letra – que é horrorosa quando escrevo relaxadamente. Dizia ele: - não é que o Osnir tem letra ruim, é que ele não aprendeu a escrever.
Embora, nós - a gurizada - o tivéssemos apelidado de Pinduca, que era um personagem careca dos quadrinhos, esta nossa irreverência e aparente desrespeito tinha muito de carinhoso com ele, pois na verdade todos nós éramos seus fãs.
Um determinado dia, ele estava jogando cartas com os amigos nas dependências do Jockey Clube, quando teve um ataque fulminante do coração, foi socorrido na hora por um médico, companheiro de jogo, mas não adiantou.
Nunca me esqueci da sua linda figura, que agora dividi um pouquinho com vocês, dando somente uma idéia do que era este rico personagem que passou pelo Terceiro Tabelionato de Notas de Porto Alegre.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

BIBI MUITO OBRIGADO!


Existem determinados atores que a gente não pode morrer sem assistir.
Aprendi isso quando me deu um estalo e fui assistir a última peça de Paulo Autran no Teatro São Pedro. Pouco tempo depois ele infelizmente para mim e para todos desapareceu uma das maiores legendas do teatro brasileiro.
Pois, a filha do grande Procópio Ferreira, um marco do teatro nacional, nos autos dos seus 86 anos estava em Porto Alegre para apresentar mais uma peça. Quando eu soube dei um jeito de comprar os ingressos imediatamente. E, eu e Lourdes estávamos lá pontualmente às 21h30min, ainda assustados, pois, quase chegamos atrasados, e vocês sabem: Porto Alegre, neste ponto, é civilizada: chegou atrasado não entra.
Bibi faz o papel da mulher de um senador que descobre as safadezas de seu marido. Gracindo Júnior faz o senador, cada vez mais parecido com o pai, inclusive quanto à voz, apresenta um cara-de-pau inigualável, tal como exatamente têm os nossos parlamentares.
O elenco é completado por Neusa Faro, fazendo uma impagável empregada, Rafael Primot faz um ótimo Hacker, e Flávia Monteiro não precisa muito esforço para interpretar a gostosa amante do senador.
A gente não pode deixar passar este tipo de ator ou atriz, pois podem não voltar mais por aqui. Outro dia esteve aqui AZNAVOUR. Só não fui por um singelo motivo: o preço. Por 350 fiorins não vou nem a Show dos Beatles com John e Harrison ressuscitados. Passei com muita tristeza, mas acho um abuso.
Voltando à peça da Bibi. Nos primeiros dez minutos, achei a Bibi, sem graça. Pensei é fim de carreira; não tem mais fôlego. Que nada, ela embalou e fez uma apresentação (que me perdoem meus amigos gays) divina.
O teatro todo riu às bandeiras despregadas. Infelizmente, nada daquilo é piada: trata-se da mais pura verdade. Eles (os políticos) são assim mesmo. Pobre povo brasileiro.

sábado, 20 de junho de 2009

QUEM SE CERCA DOS JOVENS, JOVEM TAMBÉM FICA























Quando a gente se cerca de jovens, também fica um pouco jovem. Na foto que ilustra esta texto, estou junto com meus colegas mais jovens do tabelionato, no dia em que comemorávamos meus 40 anos no ofício.

SE UM DIA EU APRENDER A ESCREVER

José Osnir Vieira Vaz


“Amor de mis entrañas, viva muerte,
En vano espero tu palabra escrita
Y penso, com la flor que se marchita,
Que si vivo sin mí quiero perderte.”
F.G. Lorca


Se um dia eu aprender a escrever, escreverei que amo a vida. Escreverei sobre as pessoas que amei e que amo. Escreverei sobre os sonhos que sonhei. Escreverei sobre as flores que vi. Escreverei sobre as paisagens que contemplei. Escreverei sobre a criança sorrindo. Escreverei sobre o rosto do velho que espelha uma vida.

Se um dia eu aprender a escrever, escreverei sobre os livros que li, e os que deixei de ler. Escreverei sobre as músicas que tanto gostei. Escreverei sobre os lindos quadros que vi. Escreverei sobre as belas esculturas que admirei. Escreverei sobre os palhaços que me fizeram rir. Escreverei sobre os atores dramáticos que me fizeram chorar.

Se um dia eu aprender a escrever, escreverei sobre os cães que me foram fiéis. Escreverei sobre os bichanos que me fizeram rir. Escreverei sobre os pássaros que vi desenharem no céu. Escreverei sobre os cavalos correndo no pampa.

Se um dia eu aprender a escrever, escreverei sobre o verde do mar e o azul do céu. Escreverei sobre o verde das campinas. Escreverei sobre as areias das praias. Escreverei sobre as florestas. Escreverei sobre as montanhas da serra. Escreverei sobre a neve encimando as cordilheiras.

Se um dia eu aprender a escrever, escreverei sobre a solidão. Escreverei sobre a multidão. Escreverei sobre os amigos e sobre os desafetos. Escreverei sobre a presença e sobre a ausência. Escreverei sobre o tudo e o nada. Escreverei sobre o agora e o infinito. Escreverei sobre o ontem, o hoje e depois.

Se um dia eu aprender a escrever, escreverei sobre o frio e o calor. Escreverei sobre as quatro estações. Escreverei sobre a chuva e o sol. Escreverei sobre a lua e o sol, mas escreverei principalmente às estrelas.

Mas, se um dia eu não puder mais escrever, que os meus escritos continuem a dizer por mim.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A INJUSTIÇA DA HORA

Não gosto de doce, por isso, quando como melado, nem boto açucar.
Ando muito chateado nos últimos dias com a injustiça que estão a fazer com o Senador Sarney. Vejam bem, ele é a pessoa mais coerente que já existiu no Brasil.
Nos governos militares, o Senador era do partido do governo, ou seja, ARENA, e depois PDS.
Com o fim do governo militar, foi incluído na chapa de Tancredo, o qual morreu e passou o bastão, contra a vontade, para ele Sarney. Assim, o corajoso homem público, continuo no governo.
Atualmente com o governo Lula Lá do PT de que lado está o Senador Maranhense? Na aliança governista.
São 45 anos de corajosa militância governista.
O que os invejosos trouxeram contra o Senador? Só 8 parentes e agregados empregados no senado.
Esta turma deve ter trabalho que não acaba mais, pois são somente DEZ MIL PESSOAS trabalhando no Senado. Dividindo pelo número de senadores, chegamos 123,45 funcionários por senador. Ou seja, é muito trabalho para tão pouca gente.
A lei obriga a publicar as nomeações feitas nas repartições públicas. Se as pessoas não leem os boletins secretos internos do Senado não é culpa do ilustre senador, pois na verdade houve a publicação. Só falta estes chatos exigirem que a publicação seja em diário oficial que não é lido por ninguém.
Finalmente, o ilustre senador já deu todas as explicações em público ao discursar esta semana no Senado, o que mais querem?
Encerro com uma frase do Barão de Itararé: haja o que houver, custe o que custar, estaremos sempre ao lados dos vencedores!

TEORIA OU PRÁTICA? UM BREVE ENSAIO SOBRE O ENSINO ÚTIL

Outro dia, eu estava conversando com um sobrinho sobre as dificuldades de aprender. Eu lembrei então que tive grande dificuldade de entender trigonometria, quando estudei no segundo grau. Quando estava me preparando para o vestibular, que posteriormente passei na UFRGS, adquiri um livro editado pelo pessoal do Cursinho Mauá. Nele, eu entendi para que servia a tal de trigonometria. Assim, desenhei para o meu sobrinho o círculo trigonométrico, o problema do triângulo, dos eixos, do seno, co-seno e tangente, e fui explicando qual era a função de cada coisa, e, principalmente a sua aplicação prática, através das equações que dali derivavam e que resolviam muitos problemas no campo da matemática. Ao final da explicação, ele exclamou: puxa como ficou fácil de entender com a tua explicação, eu também até hoje não tinha entendido para que servia esta “naba”.
Este é exatamente o problema: os professores não explicam, de saída, para que serve aquilo que está tendendo passar para os seus alunos. Tudo deve ter um objetivo na vida. Se eu preciso estudar trigonometria, deve haver uma utilidade prática. Por que eu não deveria conhecer esta necessidade de tal conhecimento técnico?
Muita gente tem verdadeiro horror de estudar exatamente por este distanciamento do mundo teórico da escola para o mundo prático. Eu tinha um professor, que por sinal me encontrei outro dia, Prof. Paulo Leibel de Moraes, o qual ensinava física com aplicação prática no cotidiano. Ora, era muito mais fácil de entender. Para explicar o que era física, ele fugia dos antigos conceitos da diferença entre os fenômenos físicos e químicos, e dizia logo: física é o que nós vamos estudar neste semestre, e acabava com a discussão. Ele tinha (e tem) uma noção exata de que não interessam os conceitos e sim a finalidade, o objetivo prático da matéria em nossas vidas.
Eu costumava alfinetar os sociólogos dizendo que a sociologia consistia em estudar o óbvio metodicamente. Hostilizava os economistas dizendo que eram ótimos historiadores e péssimos profetas. É claro que se trava de meras brincadeiras com os profissionais, mas tinham o sentido de criticar o academicismo tolo, sem qualquer efeito prático.
Quando lecionava na universidade, nós que trabalhávamos em nossas respectivas profissões ligadas às matérias que ministrávamos éramos chamados de “professores de balcão” pelos professores que faziam do magistério a única atividade laboral. Eles se esforçavam para falar difícil diante dos alunos, enquanto nós só tínhamos o objetivo de passar aos acadêmicos lições que fossem úteis nas suas futuras vidas profissionais.
É insuportável conversar com pessoas que estão fazendo mestrado ou doutorado, eles fazem questão de empoar a conversa, usar termos fora do contexto do cotidiano, numa chateação sem fim, como se o seu assunto fosse de grande interesse dos seus interlocutores. Para eles nós os não mestrandos ou não doutorando somos uma raça inferior a ser humilhada com os seus profundos conhecimentos. Como se um trabalho sobre o direito ecológico da Dinamarca lhe conferisse uma auréola divina a lhe iluminar a face.

terça-feira, 16 de junho de 2009

UM POUCO DE POESIA MODERNA

UM PEIXE PARA O CÉU

José Osnir Vieira Vaz

Voa o grande condor andino,
Lá no alto, muito além do chapéu da cordilheira
De la, olha o vale,
O vale e seu rio.
Este serpenteando o grande sulco.
Segue entre as montanhas,
Se renovando a cada dia.
Rasteja sobre o seu leito,
Como uma grande víbora.
Não pode ser sua presa;
É muito grande para ele.
Só contempla.
Súbito, seus olhos brilham como o cometa.
A câmara de seus olhos fixa cada detalhe.
É um peixe grande,
Uma espada dourada.
É um desafio à sua velocidade.
Zás, cai direto sobre o rio.
A água levanta atingida por um raio.
O peixe é sacado d´água,
não sem luta.
O condor é forte,
e o leva par ao céu.

PONTO CU (.cu)

Nós assinamos dois jornais diários, sendo um o centenário Correio do Povo, e outro o muito bom O Sul. O jornal Zero Hora recebemos somente no fim de semana, ou bissextamente adquirimos em bancas. Temos assinatura das revistas Veja e Época, e as vezes compro a Isto É ou pego emprestada a do tabelião Jacy, em contrapartida lhe empresto minha Época. Não satisfeito ainda leio alguns jornais do Brasil na internet, especialmente o Estadão e a Folha de São Paulo. Algumas vezes me aventuro a ler o francês Le Figaro ou o americano New York Times, ambos com alguma dificuldade pois não domino ambas as línguas. O argentino El Clarín, que gosto muito, não tendo dificuldade na leitura.
Esta semana, descobri que posso ler o jornal cubano Granma, o qual tem versão em português. É imperdível. Não me surpreendi com o jeito de diário oficial, pois não poderia esperar outra coisa da ditadura cubana, mas a cara de pau com que apresenta o seu país é muito interessante. Tem pequenos textos do "comaandante Fidel".
Li a edição de hoje e fiquei pensando nas colunas de Moacyr Scliar, a qual trazia os nomes de pessoas que lembram suas profissões. Um José Martelo que era carpinteiro. Um Jorge Buticão que era dentista, e por aí vai. Um médico urologista que o sobrenome era Pinto.
Pois os sites trazem em seus endereços normalmente a abreviatura do país onde estão situados, exceto os EUA que são a sede da coisa toda. Assim que o Brasil é .br; a frança é .fr; a Itália é .it. Pois não é que Cuba é .cu (sic). Não é representativo? Nunca via alguma coisa tão adequada.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

CASA DE IRENE?

Embora o Rei Sol tenha sido Luiz XIV, com o seu “L`État c`est moi, algo como o Estado sou eu, a gabolice suprema é de LUIZ XV com o seu “Après moi,lê déluge” que podemos traduzir por depois de mim o dilúvio.

Existem pessoas que pensam ter reinaugurado o mundo. Que depois que assumiram a vida aqui na terra mudou. É a atitude típica dos políticos. Eles vivem cercados de puxa-sacos de plantão, reconhecidos como figuras denominadas “papagaios de pirata” , por sempre aparecerem por trás das figuras de seu objeto de bajulação. Pois estas pessoas de elogios fáceis, que ajudam a jogar para baixo dos tapetes tudo o que há de ruim nas administrações. Figuras que ajudam a esconder do chefe tudo o que é tipo de insatisfação popular são responsáveis pela verdadeira redoma que envolve os políticos mais importantes das nações.

Se o político também ajuda não lendo jornais, não vendo televisão e não escutando rádio, então está montada a fórmula para ele entender que é o maioral. O que na linguagem popular poderíamos dizer “são donos de todas as cocadas”.

Getúlio Vargas que foi um dos políticos mais importantes do pais, a par de ter sido um ferrenho ditador por mais de 15 anos, e que sua polícia política à reboque de seu chefe Filinto Muller tenha sido jogada para debaixo do tapete das esquerdas, sempre pronta a esconder suas mazelas, uma certa ocasião indagado se não ficava chateado com o grande número de puxa-sacos que o cercava respondeu: - Mas é bom né?

Claro que sim os políticos adoram um puxa-saco a que servir a todos os pedidos e necessidades. Esta horda está sempre a repetir as qualidades do chefe e a lhe esconder todas as adversidades. Como diria a gurizada ela “acaba se achando”.

Tudo isso para dizer o seguinte: o mundo inteiro está preocupado com o grande número de migrações, principalmente com relação a entrada de levas de imigrantes em seus respectivos países, a competir com a mão de obra interna. A tendência mundial é restringir este tipo de imigração.

A invasão de imigrantes no Brasil é quase livre, pois as fronteiras não são fiscalizadas. Entra quem bem entende. Não há qualquer tico de controle interno de imigrantes ilegais.

O que está fazendo o governo? Está legalizando todo mundo, ou seja, está promovendo uma grande anistia a quem invadiu a quem trabalhou ilegal, e o que pior está se vangloriando deste fato no exterior.

Vejam o que disse o nosso líder, ainda hoje:

“No Brasil, nós acabamos de legalizar centenas de milhares de imigrantes que viviam ilegalmente no país. Para dar uma resposta, um sinal aos preconceituosos, aqueles que imediatamente querem encontrar os responsáveis pela sua própria desgraça, o seu desemprego".

Sem dúvida alguma: “L`État c`est moi, après moi, lê déluge. E acrescento eu: nunca antes neste país...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

MAIS POESIA

o artigo sobre os poetas está me dando trabalho: antes o meu amigo Penha, e sua veia cigana, e, agora o Dr. Nicolau Neto ( tá bem Nicolau Lütz Netto) com estes lindos versos:

Querido Amigo Osnir:
Ah! se a poesia fosse feita só de dor....
Como ficaria uma ode, sem louvor?
A mesma flor do adorno funerário
também enfeita a festa de aniversário.
Prestam as rimas que forem feitas
conforme suas finalidades perfeitas.
Se o olhar do crítico fosse amplo, aberto,
poderá ver que este cenário é repleto
de contradições e tantos antagonismos.
Não podemos determnar formalismos,
estabelecer o que pode, o que é certo,
pois em verso, tudo tudo é correto.
A mesma lágrima produzida pela dor
pode festejar a alegria do vencedor...
A poesia é infinita, tem forma feia e bonita,
diz um por-de-sol ou diz um vestidinho de chita.
Quase tudo é relativizado neste mundo globalizado,
só o que tem valor perene não pode ser divulgado.
Um abraço
Nicolau

POEMA DE UM IRMÃO ESCOLHIDO

DEVANEIO  GITANO.......
Madrugada,

Inicio, depois da primeira hora,

Olho os céus, reverencio os Senhores no topo,
Cheiro o ar, odores inalo - coisa de Gitano
Antes de sentar, pensar, escrever,
Rebusco a caneta,
Apanho o caderno, rascunho
Busco respostas, nada, celular, computador.....
Repensar,
Algo me aflora, me ponho a ensaiar
E o rabisco sai, premente, carente,
Sem a rapidez, porém da mente que se põe a falar
Sonhos, devaneios, procuro  a palavra apropriada
O sono turva o pensamento, teima em atrapalhar
Mas quem sabe a mente, já cansada
Ainda possa ditar
Ti busco, modelo, inspiração,
Fixo a mente, perdida no tempo,
Ainda teimo em comandar,
Me entrego, durmo.....
Lembranças que vem, são antigas
Mas permanecem indeléveis,
Continuo a procura
Sou viajante, cansado, falando consigo mesmo
As imagens brotam no íntimo e pergunto.
Porquê? Porquê?
São, estão apenas, nem murmúrio,
Se assim lembranças, me tocam, fiqueis
Não importa mais a tela, o que passa
Amor apenas? não é tudo, mas ,mi basta
Continuo a viagem,
Embarco num trem esperança,
Numa estação da vida.
Não desperto, continuo a sonhar,
Os olhos marejam,
Porque, sei, quando acordar,
Não vou, teu colo encontrar,
Ti beijar, afagar, amar,
Travesseiro abraçado, tateando,
Procuro mesmo assim
A alma aflora nos olhos, sua janela,
Trazida pela lágrima, teimosa a escorrer,
Escondo os olhos, como se no escuro
Testemunhas vissem,
Me abraço aos panos que se tornam você,
Doce ilusão, me contento com pouco, será?
Eles me acariciam, fico feliz,  durmo.......
Roberto Penha

(Nota do titular do blog: Gitano é cigano espanhol ( ou seria Basco?)

AINDO SOMOS MINORIA

Anos 60 em seu início, a professorinha do Grupo Escolar apresentava aos seus pequeninos alunos a Democracia. É claro que era trazida na sua forma mais primitiva: deveriam os escolares escolher o chamado líder da aula. As funções dele seriam muito reduzidas, mas serviam para demonstrar este novo mundo aos pequenos infantes, os quais não conheciam este tipo de poder representativo, pois somente faziam parte do grupo familiar, onde o mando patriarcal era marcante, e a escola onde a professora e a diretora eram funcionárias públicas, portanto escolhidas pelo governante que as impunha.
O problema é que a gurizada era totalmente irresponsável, e via naquela forma de escolha democrática uma maneira de afrontar a autoridade constituída pela professora, fazendo com que a escolha recaísse exatamente sobre o pior aluno ou, pelo menos, no mais desordeiro.
Poucos alunos como eu levavam a sério a escolha e apontavam o melhor aluno da aula, ou o que tinha uma liderança boa. Daí que a votação resultava numa escolha que batia de frente com as idéias da professora, mas ela tinha que engolir a má idéia ou brincadeira sem graça da turma.
Passados todos estes anos, aquelas turmas hoje são os eleitores, e de uma forma ou de outra, aquilo que era uma brincadeira inconseqüente de moleque, passou a definir as eleições para os parlamentos e executivos nacionais.
O povo brasileiro ainda escolhe o político que cria mais problema, não interessando que tenha ou não capacidade de administração ou de tato para a prática legislativa, elege simplesmente o “garoto malvado”. Indica para representá-lo alguém que simplesmente apareça como uma pessoa que cause impacto na sociedade, não interessando que este fato seja bom ou mau.
Infelizmente esta prática nefasta que iniciou no Brasil, se espalhou pela Venezuela, Bolívia, Equador, Paraguai e agora até no Irã.
Não se pode nem acusar o sujeito de ser um ditador que impõe sua vontade ao povo, pois ele (povo) escolhe, aparentemente, em pleitos corretos,
Quem em sã consciência escolheria Mahmoud Ahmadinejad para síndico de seu prédio de apartamentos? Pois, o povo iraniano resolveu, em quase 70%, que ele é a pessoa mais indicada para dirigir os destinos dos persas.
Fico imaginando a sala de aula nos anos 70 uma professora tentando escolher o líder da aula, e recebe como presente que o escolhido foi Mahmoud Ahmadinejad. Pobre professora. A minha esperança é que pelo menos 30% ainda pensavam como eu sentados naquela pequena cadeira do Grupo Escolar. Um dia talvez sejamos maioria, e possamos indicar as pessoas mais bem preparadas para governar os nossos destinos. Somente espero que não seja tarde, e que o reeleito não tenha ainda conseguido fabricar seus brinquedinhos.

terça-feira, 9 de junho de 2009

SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS? NÃO, DOS POETAS TRISTES!

Não existem palhaços tristes, e não me venha com velhas lendas que todos eles são tristes lá no fundo, que isso não passa de novela de quinta categoria. Palhaço que não é alegre não tem futuro na profissão. O palhaço é um brincalhão espontâneo.
Assim como não existem palhaços tristes, também não existem poetas alegres. Poeta já é uma tristeza por definição. A poesia normalmente é um lamento, um choro, uma saudade...
Poeta rindo é tão estranho quanto uma casinha de sapé de vidraça. Um tango com letra hilária é carta fora do baralho. Poesia sem tom dramático soa como brincadeira.
Tá bem, sei que exagero, mas pelo menos os meus poetas preferidos são tristes.
Queres mais triste que Augusto dos Anjos ou Pablo Neruda?
Leia de Pablo Neruda “ Posso Escrever os Versos Mais Tristes Esta Noite”.
Se, ao final dos versos não estiveres com o coração apertado, acho melhor ir assistir ao BBB ou Silvio Santos, você não nasceu para a poesia.
Acompanhe o genial Augusto dos Anjos em A Minha Estrela.
A MINHA ESTRELA
Eu disse - Vai-te, estrela do Passado!
Esconde-te no Azul da Imensidade,
Lá onde nunca chegue esta saudade,
- A sombra deste afeto estiolado.

Disse, e a estrela foi p'ra o Céu subindo,
Minh'alma que de longe a acompanhava,
Viu o adeus que ela do Céu enviava,
E quando ela no Azul foi se sumindo

Surgia a Aurora - a mágica princesa!
E eu vi o Sol do Céu iluminando
A Catedral da Grande Natureza.

Mas a noute chegou, triste, com ela
Negras sombras também foram chegando,
E eu nunca mais vi a minha estrela!

sábado, 6 de junho de 2009

FESTA DOS QUARENTA ANOS

No dia de ontem, promovi um churrasco na Avenida Wenceslau Escobar para comemorar os meus 40 anos de tabelionato. Não o fiz para ser homenageado, embora o tenha sido, o que muito agradeço, mas na verdade para agradecer aos meus colegas de jornada, por tudo aquilo que me tem proporcionado de momentos muito bons. Fazendo todos eles com que eu me sinta muito bem em meu local de trabalho.
Em pronunciamento que fiz tive a oportunidade de homenagear velhos companheiros que já se foram, e alguns companheiros sobre os quais eu tenho profundo carinho e amizade.
Pude ratificar a minha certeza de que estou no meio não só de colegas mas de amigos, pois se tratam de pessoas que me tem muito carinho pessoal, o que muito me gratifica.
O titular do ofício, cujo emoção não lhe deixou falar, foi representado por sua filha Karen que me dirigiu palavras de agradecimento pelo meu trabalho o rotulando de digno e honesto. Embora entenda que são atributos obrigatórios de um homem de bem, fiquei imensamente agradecido.
Foi uma noite muito boa não só pela companhia, mas também pelo belo churrasco que foi servido e o qual comemos com um vinho tinto, que a noite fria requeria.
Fui também agraciado com alguns mimos de muito bom gosto, os quais me foram passados por intermédio da colega Vanessa que também se pronunciou em nome dos colegas, de forma bem humorada, como é de seu feitio e do meu agrado.
A todos os que participaram do evento o meu comovido muito obrigado.
Nos próximos dias publicarei fotos do evento.

1969-2009 QUARENTA ANOS DE TRABALHO – TOMO I

AQUELES TEMPOS

No mundo, tivemos acontecimentos muito importantes, tais como o primeiro sinal do que no futuro seria a Internet. A Boeing lança o seu Jumbo Boeing 747. O avião supersônico é lançado, num cooperação entre a British Airways e a Air France. Acontece o mais famoso festival de Rock de todos os tempos: Woodstock. Pelé marca o seu gol 1000. Nixon toma posse na presidência dos EUA. Morre o General Eisenhower. Charles De Gaulle pede demissão. O homem põe os pés na lua. Emilio Médici é indicado pelos militares como novo presidente do Brasil. Nasce o jornal O PASQUIM. O filme Oliver ganha o Oscar suplantando os melhores 2001 uma Odisséia no Espaço e Romeu e Julieta. Os Beatles cantam no telhado da Apple Records, e a polícia termina com a festa. A dupla Simon and Garfunkel lançam a música que considero a melhor de todos os tempos BRIDGE OVER TROUBLE WATER. Começa a aparecer o lendário conjunto LED ZEPELLIN. No Brasil, surgem os lendários Mutantes, à reboque da imortal RITA LEE.
Enquanto os brasileiros médios andam de fusca, os ricos andam de Mustang, Camaro e Galaxie, outros não tão ricos de Dodge Charger, Opala e Karmann Ghia. A turma anda vestida de calças boca de sino, as camisas tem enormes golas e são coloridas. Os sapatos dos garotos ganham enormes saltos. Na cintura os cintos ficam largos e com grande fivelas. Os cabelos são longos. Começa o reinado das calças jean desbotadas.
Na nossa Porto Alegre, os bondes estão se despedindo. Os fuscas começavam a tomar conta da praça substituindo os velhos e grandes carros de praça por táxis mirins. O policiamento ostensivo é feito por duplas de brigadianos chamadas carinhosamente de Pedro e Paulo. Não existem assaltos nas ruas. As ruas do centro de Porto Alegre são limpinhas. As pessoas vestem suas melhores roupas para chegar ao centro da cidade, especialmente a Rua da Praia.
O Centro conta com enormes lojas tais como Renner, Bromberg, Casa Vitor, Casa Louro, Wollens, Alfred, Mesbla, H.T. MOLLER, HERMES MACEDO, J.H. SANTOS, CASA PIMENTA, ARMAZEM RIOGRANDENSE, GUASPARI, IMCOSUL, IBRACO, CAMELO, ULTRALAR, CASA REINALDO, RANDAK, quase todas desaparecidas.
Tínhamos cinemas e profusão no centro: Vitória, o meu preferido, São João, Continente, Guarani, Carlos Gomes, Cacique, Rex e Scala para citar só os do centrinho.

1969-2009 - QUARENTA ANOS DE TRABALHO – TOMO II

A INDICAÇÃO

Eu tinha uma conhecida dona Natália que era muito amiga do senhor Alberto, ali em Viamão, onde eu morava. Eu já tinha trabalhado com o senhor Alberto cobrando das contas de água de casa em casa. Não havia água da Corsan. A água encanada era fornecida por uma cooperativa, que nada mais era do que um grupo de pessoas, com um poço artesiano e algumas bombas, e a água era distribuída pelas ruas alternadamente. O senhor Alberto com uma chave desviava a água de uma rua para a outra, de tal sorte a abastecer as caixas d´água de todo mundo. O meu trabalho era cobrar mensalmente as contas. Ouvia muito desaforo tais como: que água? Faz um mês que não recebo nenhuma gota.
Pois o senhor Alberto era cunhado do senhor Francisco Holmer. Holmer tinha sido prefeito de Taquara, onde o titular do Tabelionato Dr. Moacyr Dornelles, tinha sido secretário. Pois o Dr. Moacyr convidou o senhor Holmer para ser uma espécie de tesoureiro. Foi então através do senhor Holmer que eu fui convidado a vir ao cartório e me apresentar ao tabelião.
Foi assim que precisamente no dia 04.06.1969, eu iniciava o primeiro dia destes quarenta anos no 3º Tabelionato.
Naquele tempo, os funcionários do Tabelionato eram contratados sem carteira de trabalho, pois não havia legislação que os amparasse. Somente os chamados Ajudantes Substitutos que após fazer uma exame de seleção passavam a esta condição e eram nomeados pelo governador, com direito à futura aposentadoria pelo Estado. Os escreventes podiam descontar para o IPE, mas o restante não tinha direito nenhum.
Foi assim nesta condição que trabalhei os meus dois primeiros anos. Não tinha direito a 13ºsalário, Previdência Social, Vale transporte ou mesmo Vale Refeição. Se fosse despedido não ganhava nada. O único direito respeitado era o de férias.
Esta desregulamentação acabou em 1970, quando passamos a ser regidos pela CLT, ingressando no mundo do INSS, dos direitos trabalhistas em geral.
O meu salário inicial como ficharista - que era a denominação do meu cargo – era um pouquinho menor que o salário mínimo. Este era de 156,00 cruzeiros e eu entrei ganhando 129,60. É verdade que quando fui receber já ganhei o novo de 156,00.
Deste dinheiro eu tinha que pagar o almoço e as passagens para Viamão. Sobrava algo parecido com nada.

1969-2009 - QUARENTA ANOS DE TRABALHO – TOMO III

OS PRIMEIROS DIAS

Naquele dia que eu cheguei, haviam entregues no cartório cinco fichários de reconhecimento de firmas, os quais ainda estão por aqui. Pois o meu primeiro trabalho foi com martelo tirando os ficheiros de suas embalagens de madeira.
Em seguida foi trabalhar atendendo o balcão do reconhecimento de firma, onde fiquei por uns dois ou três anos.
O chefe do setor era um antigo Ajudante chamado Eurico Guerreiro, natural de Uruguaiana, fumante inveterado que chegava a pitar três cigarros ao mesmo tempo. Ele gostava muito do meu serviço, e não se cansava de me elogiar. O problema é que como ele gostava do serviço feito por mim, e tinha confiança não queria que eu saísse do fichário, o que não era bom, pois eu não progredia.
Um belo dia fui escalado para ser “carimbador” que eu considerava uma tarefa mais nobre. Daí fui para o caixa. Quando entrei para a faculdade de Direito o Dr. Moacyr me sacou do Caixa, e me colocou para auxiliar o Danilo nas procurações. Eu ajudava o Danilo, e o substitui nos impedimentos e férias dele. Também passei a fazer as chamadas DOIs – Declaração sobre operação imobiliária, e o chamado registro de procurações, por transcrição que não existe mais hoje.
Fui o primeiro funcionário a ser nomeado escrevente autorizado, o que não era tradição no Terceiro Tabelionato. O Dr. Moacyr me indicou para subscrever reconhecimento de firmas e autenticações de documentos. O senhor Eurico Guerreiro, a quem presto minhas homenagens, já havia falecido, ficando tão-somente no setor do reconhecimento de firmas outro ajudante chamado Delmar Schmitz, uma figura muito legal, que atualmente está passando por momentos muito difíceis em matéria de saúde, mas a quem também presto minhas homenagens, pois mora no meu coração, por ser uma grande pessoa.
Passado algum tempo o Dr. Moacyr Dornelles me chamou e me perguntou se eu pretendia continuar no cartório depois de formado, eu lhe disse que sim, e então ele me disse que pretendia me nomear Ajudante. Bem neste tempo, surgiu um Impasse quanto estas nomeações e tudo acabou suspenso. Quando eu efetivamente me formei, o Tabelião já era o filho do Dr. Moacyr o Dr. Antônio Carlos, com quem eu tinha grande afinidade, sendo inclusive seu aluno na faculdade de Direito da Universidade Federal. A consideração dela era muito grande com a minha pessoa, tanto que me convidou algumas vezes para fazer palestras aos seus alunos, especialmente quanto a Incorporações Imobiliárias, que era uma matéria não dominada por ele. Um determinado tempo, eu lecionei alternadamente com ele na própria Faculdade de Direito, sem que eu tivesse qualquer vínculo com a Universidade, somente com a autorização do Diretor, então o Dr. Peter Ashton que tinha sido meu professor de Falências e Concordatas.
Finalmente, o impasse junto a Corregedoria chegou ao final, e eu fui nomeado então Oficial Ajudante que era a nova denominação, não mais nomeado pelo governador como o era o Dal Mollin, mas na modalidade que já tinha o senhor Jacy, atual titular.
Então, passamos a ser três os substitutos Dal Molin, Jacy e eu.
Eu estava com 28 anos, e com 11 anos de cartório.
O Dr Antonio Carlos resolveu me encostar no Dal Mollin, para consertar as escrituras impugnadas, daí que fizemos uma bela parceria que durou por mais de 30 anos. Aprendi muito com ele, e creio que alguma coisa também lhe passei.

1969-2009 QUARENTA ANOS DE TRABALHO – TOMO IV

O AMADURECIMENTO

Em 1977, antes de me formar eu casei com Maria Lúcia, que mais tarde também veio a estudar direito e se formar na UNISINOS, com o que eu fiz na prática um novo curso de direito, me mantendo sempre atualizado. Depois com o escritório aberto por ela, com a minha colaboração, eu pude manter a atualização em matéria de advocacia, com algum prejuízo é claro pela falta de vivência forense.
Em 1981, nasceu minha filha Gabriela, que depois também rumou para o direito, sendo atualmente defensora pública na cidade de São Lourenço do Sul, em véspera de ir para Rio Grande. O Curso da Gabriela eu não acompanhei tal como o fiz com o de Lúcia, mas alguma coisa também eu peguei para recordar.
No ano de 2000, infelizmente, Lúcia faleceu, mas eu fiz questão de manter o escritório aberto, convidando inicialmente a Dra. Vera para assumir, e posteriormente com minha Nova União com Lourdes esta assumiu o escritório definitivamente. A minha filha Gabriela teve uma passagem breve por lá, antes de passar no concurso.
A verdade é que me mantive atualizado este tempo todo, o que também contribuiu para o meu trabalho no ofício.
Um fator importante também foi o tempo em que fui convidado e lecionei por quatro anos na Faculdade de Direito da ULBRA, pegando a primeira turma de formandos, tendo que criar inclusive o programa da Cadeira de Direito Notarial.
Lá tive contato não só com os estudantes de minhas turmas, mas com as bancas examinadoras, na quais trabalhei e examinei e orientei trabalhos de conclusão em toda a área do direito cível e processual civil. Todos os alunos orientados por mim, cujos trabalhos recomendei foram aprovados com boas notas.
Ressalto ainda o meu trabalho também por quase quatro anos nos chamados Juizados Especiais Cíveis, onde trabalhei tão-somente um pouco mais de um mês como conciliador e logo em seguido fui convidado pelo Juiz titular a ser Juiz leigo, ou seja presidir audiências de instrução e julgamento, redigindo sentenças finais, ad referendum do juiz titular.
Todas estas minhas atividades paralelas ao trabalho no TERCEIRO TABELIONATO por certo tem contribuído para o trabalho que entendo bom no ofício, em colaboração com tabelião titular.

1969-2009 QUARENTA ANOS DE TRABALHO – TOMO V

FORMA DE TRABALHO

Eu tenho uma forma peculiar de trabalhar, alternando momentos de grande concentração, onde pode cair o mundo e estou mergulhado no exame de alguma documentação ou caso complicado, como posso também estar no meio de uma confusão e mesmo assim me manter lúcido e com o raciocínio vivo e rápido na solução dos problemas.
Como todas as pessoas que não atingiram a santidade, tenho meus problemas e minhas deficiências. É sabido que não sou pessoa que prima pela organização. A minha memória é visual, ou seja, não raro, tenho que ver o documento para então sacar do fundo da memória toda a história nele envolvida.
Acho que meu grande trunfo como trabalhador notarial é ter um raciocínio rápido na solução de problemas e conflitos, inclusive os que envolvem as partes. Tenho um trato muito fácil com as partes, e as vezes de atenção até exagerada, dando chance a algumas críticas que dou muito papo, principalmente às pessoas mais velhas. Mas é o meu estilo, e confesso ter um grande carinho pelas pessoas idosas, pois nela vejo as pessoas de meus avós e de meus pais.
Somente existem três coisas que me irritam no trabalho, a falta de colaboração eventual de um colega, a falta de atenção com assuntos que eu recomendo, e a principal o deboche. A pior das ofensas para mim é o deboche.
Não gosto de procurar culpados nos erros. Quando me defronto com uma coisa errada quero a solução. Vou buscar imediatamente como resolver o problema, independentemente de quem tenha sido o autor do erro. Jamais me isento de culpa, mesmo que ela tenha sido zero, e jamais a apregoo, pois deixaria o colega sozinho com o seu problema. Não acho justo.

1969-2009 QUARENTA ANOS DE TRABALHO – TOMO VI

MINHAS RELAÇÕES COM A CHEFIA

Sempre tive bom trânsito com os titulares do ofício, iniciando com o Dr. Moacyr Dornelles, Antônio Carlos e finalmente com Jacy Ibias. A relação com os dois titulares anteriores foi diferente, pois quando cheguei aqui eles já estavam na titularidade, enquanto Jacy foi meu colega. O meu relacionamento, resguardado o respeito com sua autoridade, é muito bom. Ele me respeita enquanto profissional, e demonstra isto, e eu lhe presto como sempre prestei um bom trabalho, honesto e sobretudo sincero.
Nunca largo elogios imerecidos ao que é feito. Quando não gosto digo, pois entendo que desta forma estou colaborando. Não faço campanha contra, nem boicoto, mas somente digo o que entendo não estar correto, pois assim estarei prestando um serviço sério e profissional.
Esta fórmula tem funcionado bem, pois guarda credibilidade, a gente aprende muito mais com quem de nós discorda, pois aquele que conosco concorda com tudo nada nos acresce.
Também recebo com tranqüilidade as críticas que são feitas, pois com elas posso progredir e aperfeiçoar o meu trabalho. Os que estão de fora, não raro, tem mais condições de dizer se alguma coisa está funcionando correta ou não.

1969-2009 QUARENTA ANOS DE TRABALHO – TOMO VII

COMO ENCERRAR A CARREIRA? OU COMEÇAR UMA NOVA.

Alguém já disse que acumular conhecimento sem distribuí-los é completamente inútil. Pois eu levo isto muito a sério. Daí que estou a todo tempo tentando ensinar os colegas mais novos. Não somente dizendo como fazer, mas principalmente. Saber fazer só não basta, pois é necessário saber qual o motivo de fazer. Daí que uma atividade que muito me trouxe satisfação foi a de palestrista de aperfeiçoamento do pessoal do cartório.
Quero encerrar minha vida útil laboral trabalhando no escritório de advocacia junto com Maria de Lourdes, minha esposa, o que me dará imensa satisfação. Gosto muito dela, não só como pessoa, a quem dedico meu amor, e usufruo seu grande companheirismo de todas as horas, mas também admiro imensamente o seu lado profissional.
Trata-se de uma trabalhadora da advocacia que consegue provar que se pode vencer nesta nobre arte com honestidade, sinceridade e confiança, nunca empregando ardis para ganhar os feitos, nunca traindo a ética ou humilhando o adversário.
Ora, é tudo o que prego e sempre preguei na minha profissão. Assim, é tudo questão de oportunidade esta nossa futura parceria também no campo da advocacia.

terça-feira, 2 de junho de 2009

A COPA DO MUNDO É NOSSA

Sub-título: CENTO E NOVENTA MILHÕES EM AÇÃO, PRÁ FRENTE BRASIL DO MEU CORAÇÃO...


A copa do mundo de quatro-em-quatro anos mascara todos os nossos problemas. Em ano de copa, vivemos como anestesiados. O governo pode fazer as maiores besteiras que nós não ligamos à mínima. Afinal de contas é ano de copa do mundo: a coisa mais importante para os brasileiros.
No mês da copa, não se fala em outra coisa. É um período ótimo para a roubalheira geral, pois o povo está em estado de graça. Acorda futebol, come futebol, dorme futebol. Nem sexo faz, pois o futebol já lhe satisfaz.
O Brasil fez uma Copa do Mundo em 1950, quando eu ainda não habitava por estas paragens, daí que não sei, nem tenho a mínima idéia como pensava o povo daquela época. Já tenho dificuldade de entender como pensa agora, como poderia entender uma gente que não conheci?
Pois não é que o senhor Teixeira, com a ajuda do sogro Jean Havelange conseguiu trazer a copa de 1914 para cá. Então, meus amigos, até lá só vai dar Copa do Mundo. Pode acontecer de tudo, pois estamos às vésperas de uma copa por aqui.
O país vai gastar bilhões de dólares que não poderia gastar. Grana que poderia ser usada em saúde, educação e segurança pública. Mas vai gastar com estádios de futebol e infra-estrutura para atender os jogos.
A fila para as consultas de oftalmológicas podem continuar sendo de dois anos, os doentes de câncer podem continuar esperando anos a fio para conseguir um exame, pois gastar em futebol é mais importante.
O senhor Lula Lá não dá reajuste das aposentadorias porque não tem dinheiro, mas vai ter para alcançar ao futebol.
Os clubes de futebol vão ganhar dinheiro para enfeitar e aperfeiçoar suas praças esportivas, mesmo devendo as burras para o erário. Não pagam INSS, não recolhem IMPOSTO DE RENDA, não pagam FGTS, mas vão receber dinheiro para gastar no futebol.
Já disse, já escrevi que gosto é do meu clube, o Grêmio, fora dele não ligo à mínima para futebol. A seleção brasileira não quer dizer nada para mim, até porque acha ela fruto de politicagem. Não confundo seleção de futebol profissional com pátria.
Porto Alegre terá jogos da copa. E, daí em 1950 também teve, o que a cidade se modificou por causa disso: nada! Teremos oportunidade de assistir a copa do mundo em nossa cidade? Não sei os preços serão internacionais, leiam-se os olhos da cara, mais o nariz e as orelhas, para assistir seleções de segunda linha, pois as primeiras obviamente ficarão no Rio e S.Paulo. Pagar algo em torno de 500 reais para assistir a um espetáculo? Não pago nem para ver os Beatles, mesmo com Lennon e Harrison ressuscitados.

CHEGA DE EMOÇÕES

No último domingo, a tevê Globo apresentou um especial com o nome de ELAS CANTAM ROBERTO. Pelo dito programa fica comprovado o que há muito eu venho dizendo: temos um elenco enorme de excelentes cantoras, e um número muito reduzido de bons cantores.
Gostei das apresentações, exceto a participação de Marília Pêra que deve ter entrado no programa errado, numa perfomance teatral de gosto duvidoso. Hebe Camargo teve muito bom gosto na escolha da música, desconhecida do grande público, mas que ficou maravilhosa na sua interpretação.
Ao final, constatou-se que algumas cantoras foram cortadas na edição, entre elas algumas que não podiam ter ficado fora Marina Lima, Calcagnotto e principalmente Rosemary.
Duas situações eu não gostei: a primeira que melhor cantora brasileira – Zizi Possi – trouxe a reboque sua filha, que não tem a estatura de voz da mãe; e o fato de Ivete Sangalo ter cantado duas vezes em detrimento das outras cantoras que ficaram fora. Também não gostei da apresentação de Sandy, sem Júnior, cuja voz é muito enjoada.
Resumindo os pontos positivos Hebe, Possi quando sozinha, Mercury e a Marrom Alcione. Os pontos negativos: a edição, Sangalo , em dose dupla, e Possi acompanhada.
O que não dá mais para aturar é o próprio RC cantando emoções. Ele tem um número imenso de lindas e inesquecíveis canções e fica apertando na mesma cansada tecla.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O ACIDENTE LEVOU O PROFESSOR CHEM?

Muita gente diz que não tem medo de andar de avião. Na maioria das vezes, está só balaqueando, pois não há quem não tenha certo receio. Confesso que, embora já tenha andado muito de avião, de tudo quanto é tipo desde os antigos e barulhentos trijatos da Boeing os 727 até os Jumbos e Boeing 777, passando pelos maravilhosos Electra da Ponte Aérea, quando embarco, monto num certo receio. Isso não afasta a minha vontade de viajar de avião, até por que existem destinos que só se pode ir de aeroplano, ou se passa um tempão viajando de navio, no que se perde muito tempo.
Cada vez que acontece um acidente de avião, tal como parece ter ocorrido ontem com o avião da Air France num voo entre Rio e Paris, onde a aeronave desapareceu, aparentemente 700 km de Fernando de Noronha, a gente vê declarações e conclusões completamente sem sentido para quem tem um mínimo de conhecimento de aeronáutica.
Passo para vocês alguma coisa que conheço sobre o tema, sendo que a maioria li num livro de um antigo comandante da Varig, cujo nome, confesso, não lembro, o que é imperdoável, mas o título seria mais ou menos “Não Voe Cego”.
A verdade é que duas coisas fazem um avião voar: a força para frente que faz o motor, e o desenho das asas que tem uma curvatura diferente em cima e em baixo. Basicamente esta diferença de desenho produz numa superfície uma diferença de pressão que faz a sustentação do avião.
O que isto tem de importante? Basicamente, o avião não tem motivo seu para cair em voo de cruzeiro, ou seja, aquele em que ele está lá em cima, nos seus 30.000 pés, alguma coisa como 12 km de altura. Mas não pode cair lá de cima? Pode, mas são necessários acontecimentos pouco comuns: o primeiro, seria a vontade do piloto; o segundo, alguma coisa que colidisse com a aeronave, tal como aconteceu entre o avião da Gol e o Legacy; terceiro, algum objeto estranho, tal como um míssel, por exemplo, jogado contra o avião; quarto, alguma coisa de dentro para fora que provocasse o rompimento da carcaça da aeronave, tal como uma bomba, ou um container que fosse projetado contra as paredes.
Na verdade, 99% dos acidentes em aviação ocorrem quando o avião está nos seus momentos críticos que são a subida e a descida. Na subida, é necessária uma força descomunal para que impulsionada em alta velocidade, crie as condições de aumento de sustentação fazendo com que a aeronave se desprenda do chão e se mantenha voando. Um erro de cálculo ou qualquer imperfeição pode fazer com que a decolagem seja abortada, mas existe um limite que ultrapassado pode fazer com que a avião se espatife no chão. Na descida, o que o piloto faz na verdade é derrubar o avião. Não se assuste ele faz isso controladamente. Se houver descontrole na descida da aeronove também pode se espatifar no solo. Às vezes apenas um vento lateral pode provocar um acidente, ou no mínimo uma saída da pista. Basicamente, na descida, o que piloto tem que controlar a velocidade de descida e o ângulo de entrada, para que não exceda o tamanho da pista, e, por via de consequência, ocasionar um acidente como o do avião da TAM.
Ouvi falar no caso deste acidente com a Air France que poderia ter sido um raio. O avião é uma caixa fechada, onde o raio, que nada mais é do que uma descarga elétrica não penetra nas entranhas da aeronave, fica somente na superfície do metal, e sai pelo lado oposto, tal e qual a chamada Caixa de Faraday, um dos melhores tipos de sistema para-raios, pouco utilizado aqui no Brasil. O caso de raio em aviões é muito comum, sem que cause maiores prejuízos.
Também posso dar o meu palpite – falei palpite só – sobre o acidente, em função do que se descobriu até agora. O avião em seu sistema automático de comunicação com a empresa acusou problemas no sistema elétrico, e no sistema de pressurização. Uma queda no sistema de pressurização pode ter levado o piloto a baixar a aeronave para níveis bem baixos em pouco tempo, o que pode ter levado a um congelamento do interior da aeronave. O tempo estava péssimo o que pode ter agravado a manobra. O tempo ruim não permitiria uma descida no mar, logo, o avião deve ter caído direto, infelizmente.
É bem provável que jamais se saibam as verdadeiras causas do acidente, ou mesmo que nunca sejam achados os restos dele, tal como ocorreu com o cargueiro da Varig, pilotado pelo mesmo comandante que desceu heroicamente em Orly salvando centenas e pessoas.
Soube que no voo estava o Dr. Chem, com sua família, ou seja a esposa e filha. O Dr. Chem foi meu professor de Biologia no antigo Curso Mauá, no ano de 1974. Depois se tornou um médico que se dedicava a cirurgia plástica, tendo sido pioneiro por aqui em transplante de pele. O professor Chem, como o chamávamos, era uma pessoa muito legal, tinha um estilo muito próprio.
Na primeira aula, dizia: - Não sei se já falei para vocês o que é osmose? Todo mundo dizia: - não, professor! E ele desenrolava o conceito de Osmose: é a passagem de um de um líquido de um meio menos concentrado para um mais concentrado através de uma membrana semipermeável. Continuava a aula, em seguida parava e repetia a pergunta: - Já falei para vocês o que é osmose... Era uma maneira eficiente de fixar o conceito, tanto que nunca esqueci. Grande perda para a ciência. Tenho falado: estamos perdendo nossos boas cabeças e não estamos mais repondo.

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