domingo, 30 de novembro de 2008

TÊM DIAS EM QUE A GENTE SE SENTE COMO QUEM PARTIU OU MORREU

A música RODA VIVA de Chico Buarque começa dizendo que tem dias em que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Embora por outros motivos, as vezes não muito santos, ele tem razão. Existem dias em que gente se pergunta o que está fazendo aqui?
O bom é que estes dias são poucos, mas quando chegam atazam na nossa vida.
Quando a gente é do tipo que põe a culpa de nossas mazelas nos outros, a solução é fácil, mas quando a gente é do tipo que abarca os males do mundo, eles praticamente os implodem contra o nosso próprio peito, aí a coisa se complica.
Simplificando com Sartre ( se fosse possível a Sartre simplificar) o inferno são os outros. O principal problema dos outros, dizia o filósofo é que nos revelam, e isto nos desagrada sobremodo.
Lembrei daquele desenho do macaquinho dizendo: - Quando me dá vontade de trabalhar eu fico sentado esperando a vontade passar... Quem sabe a gente fica sentado esperando a culpa passar?

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

PODERIAM TER DORMIDO SEM ESTA

Já disse várias vezes que a ignorância é muito diferente da burrice. Enquanto ignorância é simplesmeste ignorar alguma coisa, ou seja, não saber; não ter conhecimento de alguma coisa, a burrice é sinônimo de pouca inteligência. Nesta linha, o presidente é ignorante em muita coisa, mas burro não é. Assim o é, que às vezes ele diz alguma coisa verdadeira, e até com alguma inteligência. Foi assim quando afirmou: “O que não é possível, e nenhum brasileiro pode aceitar, é alguém fazer 90 dias de greve e receber os dias parados, porque, aí, deixa de ser greve e passa a ser férias”. Trata-se de uma verdade evidente, mas que acontece somente no setor público.
A greve é um direito legítimo dos trabalhadores de todo mundo. A categoria profissional cruza os braços, deixando o empregador no prejuízo, o que o obriga a negociar. Pelo outro lado, o empregado fica também sem o seu salário corresponde aos dias de parede. Neste jogo de pesos e contrapesos quase sempre existe o acordo, o qual põe fim ao movimento.
Acontece que os funcionários públicos que contam com apoio incondicionado da imprensa, especialmente a chamada “mídia amiga” fazem greve e praticamente obrigam o administrador a lhes pagar os dias de paralisação. Assim, ao iniciar uma greve o funcionário sabe de antemão que está tendo na verdade – segundo as palavras de Lula - dias de férias- , ou seja, risco zero.
A farra termina quando o governante tem pulso forte, e não liga a mínima para o que pensa a imprensa. Foi o caso de Yeda no episódio da greve dos professores que terminou hoje.
Noutro escrito anterior, eu já contei a história toda, pelo que não vou aqui repetir. Os professores, vulgo trabalhadores em educação, não têm a mínima razão no episódio, tendo ganhado um piso o querem transformar em plataforma para aumentos sem causa, querendo impor ao governante a obrigação de lhes conceder mais ganhos sem qualquer previsão orçamentária.
Eles falam em corte do ponto. Não há corte do ponto, mas sim falta de ponto. Eles não foram trabalhar, logo não bateram o ponto. Logo, não há ponto. Se não há ponto, não há ponto a ser cortado. Não foi a governadora quem cortou o ponto, foram eles que faltaram ao ponto. Ponto.
É evidente que os caciques do CEPERGS SINDICATO perderam a quebra de braço com a governadora, em especial pela redução do contracheque dos grevistas. Eles estavam acostumados em paralisar e receber, aí quando viram que teriam prejuízo, saíram nadando em alta velocidade como ratos do navio naufragando.
Como sói acontecer a arrogância não deixa que reconheçam a verdade e saíram atirando, mas as balas são de festim. Vamos ver se, depois desta, eles deixam os alunos em paz, e continuem a dar pelo menos as aulas que costumam ministrar aos jovens, as quais, se não são as de meus sonhos e de meus tempos, pelo menos são melhores do que nada.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

SAUDADE

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

À noute quando em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
Pra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno efeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,

Da Saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.

Augusto dos Anjos – 1901

Um de nossos maiores poetas, Augusto dos Anjos, nos apresenta a obra-prima acima com o título de Saudade.
O verdadeiro poeta nunca é alegre. Refoge de sua natureza o riso, pois o pranto é o seu melhor quintal. Assim como é estranho ao palhaço ser triste, também o é ao poeta ser visto sorrindo.
Vejo a saudade exatamente como o diz Augusto no soneto acima. A saudade sobressai na solidão (soledade), e a alma se insista e se recolhe tristemente. Mas, por outro lado, tal como diz ao final de peça, me alimenta a vida, ou seja é um fator de vida, ou razão de viver.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

FOTOS PARA SEMPRE

As vezes me apaixono por fotos. Estas duas fotos que publiquei no blog fazem parte destas paixões. Numa eu apareço com Lourdes na chamada Litle Italy em Nova Iorque. O que salta aos olhos na foto é que estamos com uma expressão muito parecida, o que é maravilhoso num relacionamento. O meu pai Anselmo, ou Zezé para os íntimos, um eterno irreverente, costuma dizer que morar junto só não pega perna quebrada, o que traduzido para a leitura dos mortais significa que os casais com o tempo vão ficando parecidos, não só nos gestos e atitudes, mas também na aparência. É evidente (eu não seria tolo pensar que isso serve para todo mundo), só acontece com casais que tem grande afinidade.
Na outra foto, eu apareço, relaxado, ao lado de Gabriela, no Central Park também em Nova Iorque. Bom, aí a parecência (com o perdão do neologismo caboclo) não é derivada da convivência, mas da natureza, a prejudicar a Gabi, é claro. Esta foto é digna de album de família. Sonho que um meu(s) neto(s) possam vê-la, quando, como diria Quintana, eu for apenas uma folha levada no vento da madrugada...

TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO?

Durante certo tempo fui professor, e, portanto, sei das dificuldades da classe. Entendo que não há motivo algum para que os professores tenham direito a aposentadoria aos vinte e cinco anos de trabalho.
Nestes novos tempos, em que as pessoas vivem cada vez mais, as aposentadorias precoces causam inúmeros problemas aos sistemas previdenciários em geral. O problema não é só atuarial, pois qualquer pessoa pode entender que os trabalhadores vivendo mais, têm mais tempo de aposentadoria, ou seja, é necessário que existam mais verbas para pagar as pessoas que ficam muito mais tempo recebendo os benefícios de aposentadoria.
A imprensa tem reconhecido que é preciso que as pessoas fiquem mais tempo no trabalho, para que não haja um crescimento muito grande do tempo de aposentadoria. Nesta linha, o governo federal instituiu medidas tais como o fator previdenciário que tem reduzido enormemente o valor das aposentadorias do INSS. A mídia, no entanto, sempre protege a classe dos professores defendendo a aposentadoria deles com somente 25 anos de trabalho efetivo, o que é uma contradição.
Vamos, para efeito de raciocínio, imaginar que o professor durante estes 25 anos de trabalho enfrente uma pressão enorme psicológica no trato com os alunos, o que lhe retira grande parte da saúde física e mental, a ponto de fazer com que atinja o jubilamento mais precocemente. Vamos acrescentar - para exagerar - que o pó de giz seja um fator de insalubridade, e que o trato com os alunos problemas seja um fator de periculosidade a justificar a antecipação da aposentadoria, teríamos mais dois fatores de risco a justificar plenamente o privilégio da redução.
Nesta linha, aos professores que trabalham na sala de aula diretamente estaria justificada a aposentadoria aos vinte e cinco anos de trabalho. Agora, me dê um motivo para que esta benesse seja estendida aos que trabalham nas secretarias, nos cargos de direção e nas bibliotecas? A que carga de pressão estariam eles submetidos, que trabalho estafante seria este de administrar uma escola ou organizar uma biblioteca?
É claro que tudo isto é resultado de um trabalho muito bem feito, começando por mudar o nome de professor – que seria obviamente o mestre da aula- para TRABALHADOR EM EDUCAÇÃO, até chegar às razões de cunho ideológico.
O mais incrível é que esta linha de raciocínio de colocar todos dentro de uma mesma panela vem sendo acolhida até pelos tribunais superiores. Assim, alguém que entre para o serviço público de professor - ou trabalhador em educação – aos 43 anos de idade estará aposentado. Se viver até os 75 anos ficará recebendo do Estado durante 32 anos. Se for casado, a viúva receberá por toda a vida, ou seja, por mais alguns anos o Estado pagará por uma prestação de serviços de somente 25 anos.
Enquanto isso, trabalhadores em tarefas muito mais penosas trabalharão durante no mínimo 35 anos, ou mais até para fugir do famigerado fator previdenciário, salvo se quiser ter uma aposentadoria mais minguada do que o normal.
Por que um motorista de ônibus urbano submetido à violenta carga de tensão diária tem que trabalhar 35 anos e um professor em cargo administrativo pode se aposentar aos 25 anos de trabalho?
Os professores no Brasil, historicamente ganham mal (muito mal), daí o governo Lula Lá, em boa hora, resolveu que todos os professores (que não são pagos por ele, obviamente) não poderão ganhar menos de 950 reais. Ora, isso é muito correto, pois não é possível que um professor ganhe menos do que este valor.
Acontece que o projeto que era para ser de piso, e, portanto, estabelecer tão-somente que ninguém ganharia menos que os 950 pilas, os quais foram transformados num presente de Natal, passou para salário base. Daí todo mundo que tem salário base inferior aos 950 terá aumento, independentemente de ganhar 950 reais ou não. Piso é estabelecer que ninguém ganhe menos que ele. Salário base é aquele inicial sobre o qual são agregadas, somadas, ou seja, acrescentadas todas as rubricas pessoais do funcionário.
Em resumo, o senhor Lula Lá deu um aumento para todos os professores, sem verificar se existe previsão orçamentária para tanto.
A coisa não parou ai. Foi acrescentado na Lei que todos os professores deverão ter um terço do seu horário de serviço destinado à preparação de aula e correção de provas. Logo, se todos terão 1/3 destinado a estas tarefas, ou seja, não darão aulas durante o equivalente a 1/3 de seu tempo antes destinado a esta tarefa, significa que o Estado deverá contratar mais 1/3 do total de professores que tem hoje. Novamente a pergunta, onde está a previsão orçamentária? De onde o Estado vai tirar dinheiro para contratar toda esta gente de uma hora para outra.
A Governadora do Rio Grande do Sul, junto com outros governadores, se insurgiu contra tais medidas absurdas, no que foi violentamente criticada, não só pelos “Trabalhadores em Educação”, mas também pelos políticos em geral e pela mídia. Por este motivo os professores estão em greve.
A Governadora Yeda resolveu corretamente que trabalhador que faz greve não recebe. Aliás, o próprio Lula – que p’ra bobo não serve- disse, certa feita, que greve com salário não é greve é licença remunerada.
Em qualquer lugar do mundo, a greve é uma luta entre o trabalhador que sonega a sua força de trabalho, e, portanto, não recebe, contra o empregador que não recebe o trabalho de seu operário, e, por via de conseqüência fica sem ter mercadoria para fabricar ou vender, tendo um grande prejuízo. Daí são medidas as forças, vencendo quem tiver mais fôlego, ou até que a Justiça resolva quem tem razão.
No Brasil, isto só acontece na iniciativa privada, pois no serviço público os governantes não têm coragem de cortar o ponto. Em país sério, o governante seria responsabilizado por pagar funcionário que não trabalhou.
Nesta luta de forças, não sei quem vai sair ganhando, mas sei quem vai sair perdendo: o contribuinte.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

AS QUOTAS

Estava pensando aqui com os meus botões: e se eu resolver voltar para a universidade? Poderia escolher um dos dois cursos sobre os quais tenho mais interesse, ou seja, história ou filosofia.
Que chance eu teria concorrendo com a gurizada que saiu agora do segundo grau? Nenhuma, pois como poderia lembrar qual a diferença entre um butano e um buteno? Como poderia eu lembrar qual a dimensão da cloaca da rã? Essas coisas muito "importantes" devem ainda fazer parte dos vestibulares.
Existe porém um fator a me beneficiar: as quotas.
Há, estas maravilhosas quotas!
Posso me beneficiar delas de duas formas: sempre cursei escolas públicas, e minha tataravó era índia, logo sou índio.
Tai, minhas chances aumentaram, acho que vou concorrer ao próximo vestibular, sob o santo protetor das quotas, afinal de contas é justiça social.

sábado, 22 de novembro de 2008

LEITURA OBRIGATÓRIA


Foi bom ler o Pais dos Petralhas de Reinaldo Azevedo no exterior, pois fiquei livre das influências nacionais, em especial a dos simpatizantes dos petralhas.
O problema é que a gente termina de ler o livro e fica com a sensação que o sujeito já disse tudo aquilo que a gente tinha vontade de dizer sobre os que ocuparam o Brasil nos últimos anos.
Ele conseguiu esgotar o tema, uma coisa que eu nunca imaginei que fosse possível.
Fiz questão de mandar um e-mail para o autor – Reinaldo Azevedo- dizendo exatamente isto.
Estou pensando em reler o livro, coisa que nunca faço. Para mim livro lido é livro fechado, salvo os livros próprios de consulta ou os de cabeceira.
Só um a palinha do livro para vocês sentirem o clima da visão do jornalista:
“A democracia no Brasil não morreu em 1964 porque a direita deu um golpe. Morreu porque não havia quem a defendesse, de lado nenhum. Um governante responsável não teria promovido ele próprio a subversão, como fez João Goulart, incentivado pelos nacionalistas bocós e pelos bocheviques tupiniquins, que imaginavam que ele pudesse ser o seu Kerenski. Não podia. Era ainda mais idiota. Deu no que deu.”
Pois os familiares do ex-presidente estão agora tentando fazer com que alguém lhes pague indenização. O alvo mais difícil é o governo americano. Eles tentam responsabilizar os EUA pela derrubada de Jango, o que certamente não vão conseguir exceto e tribunais internacionais sabidamente simpatizantes das causas de esquerda, mas que não tem qualquer poder coercitivo. Mais fácil será aqui no Brasil, onde certamente amealharão algumas centenas de milhares de reais, a exemplo de milhares de esquerdistas que já contaram com o beneplácito do governo Lula Lá para sacar contra a viúva.
Quem ainda não leu o Pais dos Petralhas, que o faça imediatamente, pois está perdendo o que há de melhor em termos de crítica política de boa qualidade e bom gosto.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

ME BELISQUE, ENFIM, UM POLÍTICO DE CORAGEM

Pois o Presidente do Senado um cidadão chamado Garibaldi Alves (PMDB-RN)resolveu devolver à Presidência da República Federativa do Brasil, o senhor Lula Lá da Silva, uma Medida Provisória que simplesmente anistiava as chamadas entidades filantrópicas que tinha sido flagradas pelo crivo da Receita Federal.
Com esta devolução o nosso Guru Maior resolveu substituir a malfada MP por um Projeto de Lei a ser enviado ao Congresso Nacional.
É claro que o Estado brasileiro, assim como qualquer nação do mundo, deve contar com mecanismos não ortodoxos para resolver problemas de urgência, a superar com rapidez o problema do processo legislativo, que é sabido como lento. O que não pode continuar é o uso e abuso das Medidas Provisórias, que - não raro – não são medidas e nem provisórias, com o perdão do trocadilho.
Quem vê o Senador Garibaldi Alves falando não dá um centavo furado ao distinto, mas ele com este tipo de atitude corajosa acaba de entrar para o pequeno e seleto grupo de brasileiros de coragem, que enchem o cidadão eleitor comum de orgulho.
Espero que ele consiga manter esta posição até o final de seu mandato como presidente e no restante de seu mandato como Senador da República. Se este tipo de atitude continuar Garibaldi Alves terá marcado uma nova página na história política verde-amarela.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

HIPÓCRITAS

Descobri a palavra lendo na Bíblia: "não faça como os hipócritas que rezam de pé nas sinagogas." Segundo o dicionário Aurélio, hipócrita significa aquele que tem hipocrisia, e esta a afetação de uma virtude, dum sentimento louvável que não se tem. Seria, em suma, uma falsa devoção.
Acontece que o vocábulo é utilizado para encobertar atitudes menos nobres.
É difícil introduzir o assunto, pelo que acho melhor citar um exemplo. Quando as pessoas são incitadas a se posicionar contra ou a favor do aborto, os abortistas em geral dizem que a atitude dos anti-aborto é hipócrita, pois a par da proibição, milhões de abortos são realizados no Brasil, a cada ano.
Se infere deste tipo de afirmação que não adianta proibir que eles continuarão a realizar os abortos, mesmo que constituam crime, e que, por via de conseqüência, para evitar a hipocrisia, o melhor seria descriminalizar o aborto e seus derivados. Em resumo, se o aborto for consentido deixará de existir o crime de aborto.
Genial, podemos também usar o mesmo princípio e resolver todos os problemas estatísticos criminais no país. Temos milhões de homicídios, latrocínios, furtos e roubos todos os dias, bastará tirar todas estas figuras do Código Penal, e num passe de mágica diminuirá a criminalidade no Brasil.
Isso convence os abortistas? É claro que não.
Como eles saem do imbróglio? Simplesmente declaram que eu e todos os que pensam igual a mim são fascistas, nazistas, retrógados, contra o progresso e por aí vai.
Nesta área de aborto a desculpa mais esfarrapada que existe é a de que a mulher é dona do próprio corpo. Ora, isto é uma verdade indiscutível, só que ela ao proceder ou mandar proceder o aborto não está dispondo de seu corpo e sim de corpo alheio, que ela simplesmente e temporariamente esta hospedando. E, o que é pior, este novel ser não pediu para ser concebido.
Nesta triste história quem será o hipócrita?

VOILÁ, O PROGRESSO À RIVE GAUCHE

Flávio Del Mese para quem não conhece é um grande fotógrafo que viajou pelo mundo inteiro, trazendo para a nossa Porto Alegre audiovisuais que apresentava na cidade baixa.
Ele é um grande sujeito, e um grande papo.
Pois, ele pensando em Paris, que é dividida pelo Rio Sena em Margem Esquerda e Margem Direita, ou seja Rive Gauche e Rive Adroit, divide a nossa Porto Alegre pelo Arroio Dilúvio ou Ipiranga, como queiram em Rive Gauche e Rive Adroit.
Como vocês sabem, mas não custa lembrar a margem dos rios são identificadas pela direção de suas águas ao mar ou a outro rio do qual seja afluente.
Neste sentido, nós da zona sul da cidade estamos rigorosamente à Rive Gauche.
Durante muitos anos, a Rive Gauche porto-alegrense este abandonada, mas nos últimos tempos ele vem se projetando, muito a reboque dos grande empreendimentos, principalmente dos grande condomínios de casas e apartamentos.
A Rive Gauche ganha agora um alavancagem – para usar um termo da moda – que o Barra Shopping outrora conhecido como Xópi do Cristal.
Trata-se de um mega investimento, o qual vai virar a cidade em direção à margem esquerda para a alegria da nossa turma por aqui.
Se os arquichatos pararem de tumultuar em breve teremos também a área do Estaleiro Só com um grande ponto turístico, o que será mais uma atração por estas bandas.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

MAIS HISTÓRIAS DE CASERNA

É SEMPRE A MESMA LESMA LERDA...

A minha Companhia (CCSv) estava almoçando o rancho do 18º BIM, ali onde hoje é o Centro Tecnológico da Puc, quando um dos meus colegas - soldado - chamou um sargento que comandava o rancho, e perguntou à queima-roupa:
- Sargento, se o senhor encontrasse uma lesma na sua alface o que faria?
O sargentão carruncado respondeu no seco:
-Eu comia!
Respondeu de pronto o soldado, com aprovação geral da milicada:
- Então come esta que estava na minha comida.
O sargento num gesto de alta "democracia" denunciou o soldado, mas foi atingido por um bumerangue, pois foi punido também pelo relaxamento, pois era o responsável pela cozinha.

ATRAÇÃO FATAL

O primeiro mês no quartel não dava direito a ir para casa ao final do dia.
A gente dormia o mês inteiro no quartel, indo dormir em casa somente no fim de semana.
Era o que se chamava de período de adaptação.
Todo mundo dormia numa alojamento só, onde existiam uns cem beliches, onde se acomodavam mais de duzentos chamados praças.
Eu nunca tinha dormido num beliche, e fiquei torcendo para não ocupar a parte de cima, pois tinha medo de despencar.
É claro que fui sorteado para a parte superior, sendo que nos primeiros dias dormi, bem no meio de barriga para cima e de braços abertos para dar mais equilíbrio. Depois vi que era bobagem e relaxei, nunca tendo problema.
Um soldado de nome Marta, não teve a mesma sorte e caiu de cima do beliche, batendo com as costas na cama de baixo, e foi direto para enfermaria, ou seja a minha idéia não era de todo errada ou tola, pois o perigo realmente existia.
Na primeira semana, um dos soldados, pediu uma audiência com o capitão comandante da Cia. um sujeito com jeito típico do interior, com o qual hoje tenho bom relacionamento, Caggiano Neto.
Disse o soldado:
- Capitão, eu não posso dormir no alojamento com os outros soldados.
- Mas por que indio velho?
- Eu tenho uma atração pelos outros que estão lá...
O Capitão chamou na hora o sargenteante ( sargento que fazia a burocracia da companhia) e determinou a imediata baixa do suposto "gay".
Quando o suposto homossexual estava indo embora já à paisana, levantou o braço e gritou para nós:
-Tchau, seus trouxas...
Nunca mais vi a figura. Deve continuar aplicando seus golpes por aí.

TROTES

Assim como são aplicados trotes aos calouros nas faculdades, o que ao meu ver se trata de uma tradição de gosto duvidoso, no quartel também se aplicavam as chamadas pegadinhas nos novatos e neófitos.
As armas são carregadas através de cintas, as quais são denominadas bandoleiras. Assim, era comum mandar um soldado novato buscar a bandoleira do canhão. Imaginem carregar uma canhão nas costas com uma bandoleira.
Mandavam a inocente criatura buscar um papel carbono redondo para bater uma circular.
Sem falar nas tartarixas e outros termos inventados somente para divertir a tropa.

BRINCADEIRAS?

O treinamento do quartel continha algumas brincadeiras bem interessantes, as quais na verdade compunham a formação do combatente.
Uma delas muito legal era pular de um caminhão a 60km por hora, de costas, com uma mochila nas costas e com um fuzil FAL 7.62, tendo que rolar imediatamente para o lado, pois o caminhão que vinha na seqüência também tinha que "derramar" os seus soldados.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

PONTAL DO ESTALEIRO SÓ

O Rio Grande do Sul em auréos tempos tinha dois estaleiros (fábricas e oficinas de navios): o Só e o Mabilde. Depois o nosso estado foi diminuindo de importância, perdendo inúmeras fábricas e empresas comerciais, e acabou perdendo também os dois estaleiros.
O Estaleiro Só ficava ali ao final da Avenida Padre Cacique, quase no Hipódromo do Cristal. A área está abandonada, com os prédios em ruínas.
O imóvel foi arrematado por uma empresa, a qual apresentou um grande projeto, muito moderno ao nível dos grandes empreendimentos que existem nos país mais adiantados, como EUA, FRANCA, INGLATERRA, ITÁLIA, e nos emergentes como Argentina e México.
O normal seria o contra dos ECOCHATOS, o que evidentemente era de se esperar, o que eu não imaginava era o contra dos arquitetos, e o pessoal da área cultural.
Os ECOCHATOS estão preocupados com a repercusão no meio ambiente. Não estão preocupados que todo o esgoto da grande Porto Alegre, resíduos industrias e outras porcarias sejam jogados no nosso rio. Para tanto não fazem qualquer tipo de movimento.
Não se preocupam se o chamado Arroio Ipiranga continue uma cloaca a céu aberto.
Não querem é que seja construída uma coisa decente ali no área do estaleiro.
Estes mesmos motivos impedem até hoje de se ter um aproveitamento da área do porto da cidade, assim como os argentinos aproveitaram e transformaram o Porto Madero e os uruguaios o Porto de Montevideo.
Os arquichatos são contra o projeto pois contém prédios a serem construídos à beira-rio, mas foram a favor e deitaram elogios ao QUEIJO DE MINAS que fizeram na mesma zona em homenagem ao pintor gaúcho Iberê Camargo. Sabem por que não houve críticas? Elementar, meu caro Watson, o artista era de esquerda, e em nome dela tudo é possível.
Oscar Niemayer construiu um monstrengo pendurado num morro de Niterói e foi aplaudidíssimo pela sinistra nacional
Acho que Porto Alegre está fadada ao atraso mesmo.

OS ARQUICHATOS

Por arquichatos se entenda os profissionais da área de arquitetura e engenharia, e que estão mais preocupados com a ideologia do que com a qualidade e beleza das obras arquitetônicas.
O Oscar Niemayer, o mais velho arquichato, é consagrado em todo o mundo como grande arquiteto mais por ser comunista do que pela qualidade de suas obras.
Olhem Brasília. A principal obra de Brasília não é dele, pois o que há de bom na Novacap é o sistema viário e urbanístico que é de Lúcio Costa.
Poucos são os prédios de beleza plástica, entre eles posso relacionar o Palácio do Itamaraty e o Palácio da Alvorada.
A Esplanada dos Ministérios é uma fileira de dominó, à semelhança dos grandes conjuntos do BNH.
O monumento ao Juscelino é o que há de mais brega. Ele para homenagear sua ideologia comunista fez uma grande foice e tacou um estátua do JK no meio. Ficou muito horrível.
O que tem de pior os seus prédios, segundo contam as vítimas, é que são desconfortáveis aos seus ocupantes e moradores, em suma: não são funcionais.
Pois os arquichatos agora resolveram atacar importantes obras para o desenvolvimentos das cidades, entre elas as da área do antigo Estaleiro Só.
Com estes arquichatos soltos na cidade, não precisamos de inimigos.
XÔ, arquichatos!

ALCÉIAS E MEMÉIAS

Quando menino adorava ler gibis. Para quem não sabe gibi é uma revista em quadrinhos, mesclando textos com figuras desenhadas. A maioria dos pais não deixavam os filhos ler este tipo de revista, pois diziam que nada acrescentavam em termos culturais. Estavam evidentemente errados, pois quem se cria lendo revistas mais tarde procurará ler outras coisas.
Os gibis mais famosos foram os do Walt Disney, incluindo Mickey Mouse, Pato Donald, Tio Patinhas e outros. Um dos meus preferidos era a Luluzinha. Ela era uma personagem bem diferente, nada tinha de feminino, exceto gostar do Bolinha, outro personagem, que por sua vez gostava da Glória, que não dava a mínima para ele, pois esticava o olho para o Plínio, um menino rico e chato.
A Luluzinha costumava sonhar com uma dupla de bruxas. A mais velha, Alcéia, era uma bruxa comum, alta e magra, com nariz adunco, a mais nova, Meméia, era baixinha, mas tão malvada quanto à primeira. As duas costumavam humilhar uma menina pobre representada pela própria Luluzinha. Geralmente quando a coisa estava muito preta para o lado da menina a Lulu acordava, terminando com o sofrimento da garota.
De lá para cá, as coisas mudaram pouco, pois as Alcéias e Meméias continuam a atazanar a vida das meninas pobres: a diferença é que não existe uma Luluzinha para despertar e acabar com pesadelo.

HISTÓRIAS DA CASERNA

Eu tinha 18 anos e fui fazer o que se chamava inspeção de saúde para prestar serviço militar obrigatório. Na verdade, não era só um exame medico, havia muito mais coisa. A Junta de Alistamento Militar, que, naquele tempo, ficava onde hoje é a Praça Raul Pilla, próxima à Praça do Portão, exatamente nos fundos da Polícia do Exército-PE. Ela tinha uma inscrição em latim: “Si vis pacem para bellum”. A expressão significa se queres paz, prepara-te para a guerra. Acontece que naqueles tempos de regime militar, volta-e-meia, o local estava interditado com cancelas e outros petrechos militares. Daí o povo, irreverente, como sói acontecer, dizia que a tradução da frase era CIVIS PASSEM PELA CALÇADA.
Na época, eu já trabalhava, pois havia ingressado no mercado de trabalho com apenas 16 anos, e já tinha um salário razoável para a minha idade e função. Pelo que, ao ser indagado se pretendia prestar o serviço militar eu disse que não, pois já estava empregado, tendo a idéia de manter o emprego. Hoje, sei que as pessoas que pensam assim são exatamente as que interessam ao exército, o qual não está interessado em vadios. Mas eu não sabia disso, e declarei ao médico que me interrogou.
O exame era feito aos lotes, daí ficamos uns cinqüenta no ginásio de esportes do Primeiro Batalhão do Décimo Oitavo Regimento de Infantaria, todos peladões para o exame médico. A situação era de evidente constrangimento.
Fui separado num pequeno grupo, uns doze mais ou menos. O restante do grupo uns quarenta ficavam separados. Eu, inocentemente, deduzi que o meu grupo ficaria fora, e que os demais prestariam o serviço militar. Com o passar do tempo, me dei conta que a diferença física entre aquele grupo que eu estava incluído era enorme com relação ao restante. Todos nós tínhamos porte, todos com altura razoável por volta de um metro e oitenta, todos magros e de boa aparência. Aí eu deduzi brilhantemente que havia sido escolhido para prestar sentar praça como diria o meu pai.
Seguiu um exame psicológico, com testes para cálculo do Q.I. e um longo interrogatório por escrito.
Fomos então designados para a incorporação ali mesmo no chamado Batalhão da Cidade, ou Arranca-Toco no dia 16 de janeiro de 1971.
Neste exato dia, me apresentei no Batalhão sendo designado para uma Companhia – que é uma das subdivisões da unidade, denominada COMPANHIA DE COMANDO E SERVIÇO. Os soldados de outras unidades nos chamavam de almofadinhas, pessoas de serviços como enfermaria, transporte e administração, ou seja, nada de pelotões de combate, exceto o único Pelotão de briga que era chamado de PELOTÃO DE RECONHECIMENTO. Para este pelotão eram designados os elementos de melhor porte físico. Não carece muito esforço intelectual para entender que fui designado para este pelotão.
Para quem não entende nada de exército, Pelotão de Reconhecimento é aquele bando de maluco que vai como boi de piranha na frente da tropa, espiando o que o inimigo esta fazendo.
Pois fiquei ali no pelotão fazendo as instruções iniciais somente nos meses de janeiro, fevereiro e março, pois ao final deste fui escolhido para fazer um Curso de Cabo, que a graduação imediatamente superior ao soldado, e logo abaixo do sargento.
Coincidiu que no começo do curso chegaram da AMAM – Academia Militar das Agulhas Negras (Rezende – Rio de Janeiro) doze Aspirantes a Oficiais, que em seguida foram promovidos a Segundo Tenente. Em resumo, doze novos oficiais saídos da melhor academia militar depois de West Point nos EUA. É claro que este fato trouxe uma qualificação muito grande ao curso de formação de cabos do batalhão, o chamado CFC.
Em julho daquele ano, eu já ostentava orgulhoso minhas divisas de cabo, ou seja, dois vês invertidos na manga do uniforme. Esta promoção me trouxe algumas vantagens. A mais imediata delas é que passava em algumas ocasiões a comandar frações de tropas, e às vezes até uma companhia inteira (200 soldados mais ou menos). Para um guri de 18 ou 19 anos era muita coisa. A outra vantagem, muita apreciada por mim, era triplicar o soldo (salário de soldado) de 80 cruzeiros para 240 cruzeiros. Eu virei um rico no meio dos meus camaradas. É claro um cabo profissional ganhava três vezes mais, mas eu não ligava para isto, pois não queria seguir carreira militar.
O país vivia o período dos governos militares. Existiam presos políticos, inclusive no meu quartel. Nunca vi qualquer violência com eles, pelo contrário eram muito bem tratados, pois tinham sela individual, separada dos demais presos militares, lhes era servida comida de boa qualidade. Um deles que, segundo eu soube, era um sargento tinha até uma tevê na cela, o que na época era um luxo, pois pouca gente contava com este tipo de aparelho em suas residências.
A nossa baixa (saída) estava marcada para o dia 15 de novembro. Acontece que foram marcadas eleições no Uruguai, onde a chamada FRENTE AMPLA tinha possibilidade de ganhar. Daí a nossa baixa foi adiada, chegando somente no último dia do ano.
Tenho muitas boas lembranças deste tempo, pois grandes amigos que até hoje me prestigiam foram feitos durante o tempo de serviço militar.
Ainda me lembro de todos os nomes de guerra de meus colegas. Para quem não sabe, nome de guerra é o nome pelo qual o soldado é conhecido, e que consta em seu uniforme juntamente com a sua graduação. Fui o SD VAZ, e ao ser promovido passei a ser CB OSNIR. Na verdade, os meus colegas de farda nunca me chamaram e Osnir e até hoje me chamam de Vaz. Quando você presenciar alguém me chamado de Vaz pode acreditar que ali está um companheiro de armas.
Tivemos alguns comandantes no batalhão Tem. Cel. Roberto Santos, que a soldadama apelidou Cobrinha e Wenceslau Braga dos Santos, Majores Derly Xavier e Boucinha, como comandante da Cia. Iniciamos com o meu amigo de Bagé Caggiano Neto, passando por Sarandi Machado até o último Laurentino Reis. Como sargentos passaram por nós o Vicentão, uma figura igualzinha aqueles sargentos que aparecem nos filmes americanos, mas uma grande pessoa, depois voltou para a sua unidade preferida que era a PE, Tamir e outros. Como comandantes de pelotão tivemos desde o Ten. R1 (de carreira) More, um dos doze da AMAM, até o R2 (CPOR) Gilberto Moresco. O Ten. More chegou até Coronel, já tendo falecido. Gilberto Moresco foi meu contemporâneo na faculdade de Direito da UFRGS.
Tínhamos um soldado profissional chamado Silvio, dois cabos antigos o Martins – que era um tipo do interior – e o Selmo que era desenhista, dos novos além de mim mais Faustino que hoje é da Brigada Militar, e Mello que foi meu colega de ginásio e que hoje é da Polícia Federal em Florianópolis.
Se a memória não me trair tivemos ainda os colegas Pacheco e Chagas já falecidos, e Derly, Ranzan, Renato, Aléssio, Júlio, Rocha, Santana, Corrêa, Ribeiro, Alípio, Vaniel, Cláudio, Paulo e Adalberto. Não posso encerrar estas lembranças militares, sem contar um episódio engraçado acontecido com o meu pelotão. Pois o nosso pelotão estava todo de guarda, ou seja, de plantão de sentinela, em toda a chamada guarda dois no 18º RI. A tal guarda dois abrangia todos os postos de sentinela que ficavam na parte dos fundos do quartel (posso contar agora, pois o quartel não existe mais), incluída posto de sentinela do perímetro, junto à PUC, Avenida Ipiranga, Cristiano Fischer, Xadrez, Paiol de Munição e Pocilga (é sito mesmo casa dos porcos). Era noite, e o tenente de dia, que era a maior autoridade de serviço no quartel, vinha fazer a chamada revista, que acontecia às 9 horas, quando ele dá com o pé numa garrafa no chão. Acha estranha uma garrafa perdida no pátio do quartel. Resolve cheirar o vasilhame: é isto mesmo, cachaça pura.
Vai até a nossa guarda e põe todo o mundo em forma, não demora a descobrir os cachaceiros, os quais levam alguns dias de xilindró.
Fui salvo por estar na hora exatamente de sentinela na esquina da Cristiano Fischer com Ipiranga, senão provavelmente tivesse dado um bico na tal caninha, pois o frio era grande. Doravante, o nosso pelotão foi apelidado de Cachaça, logo nós que entendíamos ser a elite do Batalhão.
Aprendi muita coisa no exército. Devo muito do que sou àqueles dias que passei pelo 18º - que era temido na época como um quartel de grande dureza, mas, sem dúvida, uma grande escola, a qual está faltanto para muita gente hoje.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

CRÔNICA DA CRÔNICA


Por crônica se entende pequenas histórias com fim indeterminado, ou ainda coluna de jornal e mais modernamente páginas dos chamados blogs. Pelo meu gosto, o maior cronista brasileiro de todos os tempos é RUBEM BRAGA. É dele a crônica DESCULPEM TOCAR NO ASSUNTO. Ela foi escrita no Rio de Janeiro em 1957, e faz parte da coletânea publicada sob o título de outra crônica AI DE TI, COPACABANA.
Vejam o primor: “Tenho poucas mortas. Mas como são queridas! O engraçado é que à medida que o tempo passa elas vão ficando um pouco parecidas, vão-se fazendo irmãs, mesmo as que jamais se conheceram. Aparecem raramente e sempre caçoam um pouco de mim, mas com jeito de carinho. Não faz mal que não me levem muito a sério; não mereço.”
Na verdade, é que a gente vai moldando os mortos. Vai aos poucos os colocando num padrão, que - não raro – nada tem com os originais.
O último parágrafo é impagável, olhem só: “ Mas a verdade é que nos piores momentos de minha vida sempre senti uma imponderável mão em minha cabeça; então fecho os olhos e me entrego a este puro carinho, sem sequer me voltar para ver se é minha mãe, minha irmã ou uma doce, infeliz amiga ou apenas a leve brisa em meus cabelos.”
Termina assim a crônica, como toda a boa crônica, deixando ao leitor a escolha do melhor desfecho. A boa crônica costuma deixar ao leitor a melhor parte: a continuação. Ele está livre para dar o fim que bem entende ao assunto.
Outra tirada genial de R.B. na mesma crônica: “ O pior dos mortos é que nunca telefonam. Aparecem sem avisar, sentam-se numa poltrona e começam a falar. Tocam em assuntos que já deviam estar esquecidos, e fazem perguntas demais.”
Os meus não costumam me visitar, nem em sonhos. Como tenho tido alguma sorte, acho que na verdade estão muito ocupados em me proteger, pelo que lhes imensamente gratos. Devo lhes dar um trabalho enorme, pelo que lhes peço desculpas. E, é claro, prometo quando for um deles, o que deverá ocorrer nos próximos anos, provavelmente, ajudar os outros que ainda por aqui andarem.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

ANTENA DEZENOVE

1. Anistia Internacional dá 100 dias para Obama fechar a prisão de Guantânamo. Certamente, ao final do prazo, face ao alto poder de sanção que tem a organização não governamental, aplicará ao novel dirigente americano a pena de lhe botar a língua.
2. Quanto tempo durará a Lua de Mel da imprensa internacional com Obama?
3. Por que será que nos últimos dias eu fico pensando naquele ditado inglês: nada mais parecido com um conservador do que um trabalhista no poder?
4. Lula ficou alegre – como pinto no lixo – com a vitória do Obama. Ele não se deu conta que o Brasil teve as melhores relações com os EUA exatamente durante o governo republicano de George W. Bush, e que os democratas são muito mais protecionistas, pelo que se conclui que as relações comerciais com o nosso país tendem a piorar.
5. Pensando bem, ele não se interessa nada por estas coisas bobas de comércio, certamente pensa na badalação, e neste campo Obama é muito mais parceiro do que sisudo Maquem.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

DATA ANIVERSÁRIA

Faltam alguns minutos para que eu entre no meu 56º ano de existência.
Nasci em 05 de novembro de 1952, na periferia de São Gabriel, num lugar chamado Bom Fim, na Rua Manuel Antonio de Macedo, num rancho com telhado de Santa Fé e chão batido. Foi assistido pela parteira dona Antonia que servia a todos naquele local, pois naquele tempo não tinha esta de nascer em hospital, era em casa mesmo.
Meu pai estava preso. Era inocente, como todo o preso, estava sendo processado pelo Exército por insubmisso. Para quem não sabe o que é isto: trata-se de um crime militar. O cidadão convocado para o serviço militar obrigatório não se apresenta na época própria. Acontece que o meu pai tinha se apresentado no devido tempo, mas a incorporação fora adiada. Passado algum tempo, fizeram a convocação pelo rádio, que naquele tempo só os ricos tinham. Resultado: meu pai se apresentou muito tempo depois, e foi preso.
Foi julgado, e, obviamente, absolvido. Mas quando eu nasci realmente ele estava preso. A notícia de meu nascimento chegou ao quartel, e logo aos ouvidos do oficial de dia, o qual num lindo e corajoso gesto, pois também era uma irregularidade, sujeita à punição para ele, deixou que o meu pai se ausentasse por algumas horas para ir me conhecer. Meu pai nunca disse se valeu à pena...
Menos de um ano depois, penso que no mês de setembro de 1953, aboletados numa Maria-Fumaça, sentados nos bancos duros da segunda classe, chegávamos meu pai com 21 anos, minha mãe com 15 anos, e eu com menos de ano, à mui Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre. Para quem gosta de matemática as idades dos três somadas não dava 37 anos. Naquele tempo, era uma aventura, como se fosse hoje ir para a Austrália.
Passados todos estes anos agradeço ao meu pai e minha mãe o gesto de coragem de ter buscado a cidade grande, numa linda luta, que tenho certeza pelos resultados, especialmente nas pessoas de seus filhos, eu que acompanhei tudo desde começo e minhas irmãs e meu irmão que vieram depois, que foi bem sucedida.

sábado, 1 de novembro de 2008

Dr. EDUARDO BECKER-GRANDE PERDA


Estes tempos de finados a gente já fica triste ao natural, pois começa a lembrar dos nossos afetos que já se foram. A saudade aperta, e a gente vai passando a longa lista, desde os mais chegados aos mais distantes. Em cada lembrança de rosto, em cada recordação de gestos, atitudes, acontecimentos que passamos juntos nos comovem, e afetam nossa sensibilidade.
Estava eu aqui, neste dia 01.11.2008, pensando sobre o assunto, quando lembrei que quem gostava de falar em morte era AUGUSTO DOS ANJOS, autor de um único livro EU, do qual tenho um exemplar em minha biblioteca, e ao qual muitas vezes recorro. O nosso Baudelaire (Charles de) foi realmente genial, e soube explorar o tema muito bem.
Assim reli o poema denominado Saudade. “Hoje que a mágoa me apunhala o seio,/ E o coração rasga atroz, imensa,/ Eu a bendigo da descrença em meio,/ Porque eu hoje só vivo da descrença./ À noute quando em funda soledade/ Minh’ama se recolhe tristemente,/ Pra iluminar-se a alma descontente,/ Se acende o círio triste da Saudade./ E assim afeito às mágoas e ao tormento, /E à dor e ao sofrimento eterno afeito,/ Para dar vida à dor e ao sofrimento,/ Da saudade na campa enegrecida/Guardo a lembrança que me sangra o peito,/Mas que no entanto me alimenta a vida./ Não havia, no entanto escrito nada, quando tive vontade de abrir minha caixa de e-mails, interrompendo o que estava fazendo. De imediato, vi que havia uma mensagem de Virgínia Ghisleni, atualmente defensora pública, minha colega de turma na faculdade de Direito da UFRGS, dando conta da morte do Dr. Eduardo Becker, juiz de Estrela, também nosso colega. Aprofundei a notícia e soube que ele faleceu hoje de acidente de moto.
Enquanto escrevo, estou tomando de profunda tristeza, pois Eduardo era um dos colegas que eu tinha mais admiração. Embora já fosse um antigo juiz, provavelmente próximo a aposentadoria, já que nela ingressou bem cedo, continuava com o mesmo jeito de estudante, o que percebi nas poucas vezes em que o vi depois de 1979, ou seja, uma pessoa simples, educada e agradável.
Uma irreparável perda para nós seus colegas, seus amigos, seus familiares, povo de Estrela, e também a magistratura gaúcha que perde um grande juiz, e sobretudo um grande cidadão.

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