OS PRIMEIROS DIAS
Naquele dia que eu cheguei, haviam entregues no cartório cinco fichários de reconhecimento de firmas, os quais ainda estão por aqui. Pois o meu primeiro trabalho foi com martelo tirando os ficheiros de suas embalagens de madeira.
Em seguida foi trabalhar atendendo o balcão do reconhecimento de firma, onde fiquei por uns dois ou três anos.
O chefe do setor era um antigo Ajudante chamado Eurico Guerreiro, natural de Uruguaiana, fumante inveterado que chegava a pitar três cigarros ao mesmo tempo. Ele gostava muito do meu serviço, e não se cansava de me elogiar. O problema é que como ele gostava do serviço feito por mim, e tinha confiança não queria que eu saísse do fichário, o que não era bom, pois eu não progredia.
Um belo dia fui escalado para ser “carimbador” que eu considerava uma tarefa mais nobre. Daí fui para o caixa. Quando entrei para a faculdade de Direito o Dr. Moacyr me sacou do Caixa, e me colocou para auxiliar o Danilo nas procurações. Eu ajudava o Danilo, e o substitui nos impedimentos e férias dele. Também passei a fazer as chamadas DOIs – Declaração sobre operação imobiliária, e o chamado registro de procurações, por transcrição que não existe mais hoje.
Fui o primeiro funcionário a ser nomeado escrevente autorizado, o que não era tradição no Terceiro Tabelionato. O Dr. Moacyr me indicou para subscrever reconhecimento de firmas e autenticações de documentos. O senhor Eurico Guerreiro, a quem presto minhas homenagens, já havia falecido, ficando tão-somente no setor do reconhecimento de firmas outro ajudante chamado Delmar Schmitz, uma figura muito legal, que atualmente está passando por momentos muito difíceis em matéria de saúde, mas a quem também presto minhas homenagens, pois mora no meu coração, por ser uma grande pessoa.
Passado algum tempo o Dr. Moacyr Dornelles me chamou e me perguntou se eu pretendia continuar no cartório depois de formado, eu lhe disse que sim, e então ele me disse que pretendia me nomear Ajudante. Bem neste tempo, surgiu um Impasse quanto estas nomeações e tudo acabou suspenso. Quando eu efetivamente me formei, o Tabelião já era o filho do Dr. Moacyr o Dr. Antônio Carlos, com quem eu tinha grande afinidade, sendo inclusive seu aluno na faculdade de Direito da Universidade Federal. A consideração dela era muito grande com a minha pessoa, tanto que me convidou algumas vezes para fazer palestras aos seus alunos, especialmente quanto a Incorporações Imobiliárias, que era uma matéria não dominada por ele. Um determinado tempo, eu lecionei alternadamente com ele na própria Faculdade de Direito, sem que eu tivesse qualquer vínculo com a Universidade, somente com a autorização do Diretor, então o Dr. Peter Ashton que tinha sido meu professor de Falências e Concordatas.
Finalmente, o impasse junto a Corregedoria chegou ao final, e eu fui nomeado então Oficial Ajudante que era a nova denominação, não mais nomeado pelo governador como o era o Dal Mollin, mas na modalidade que já tinha o senhor Jacy, atual titular.
Então, passamos a ser três os substitutos Dal Molin, Jacy e eu.
Eu estava com 28 anos, e com 11 anos de cartório.
O Dr Antonio Carlos resolveu me encostar no Dal Mollin, para consertar as escrituras impugnadas, daí que fizemos uma bela parceria que durou por mais de 30 anos. Aprendi muito com ele, e creio que alguma coisa também lhe passei.
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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