Outro dia, eu estava conversando com um sobrinho sobre as dificuldades de aprender. Eu lembrei então que tive grande dificuldade de entender trigonometria, quando estudei no segundo grau. Quando estava me preparando para o vestibular, que posteriormente passei na UFRGS, adquiri um livro editado pelo pessoal do Cursinho Mauá. Nele, eu entendi para que servia a tal de trigonometria. Assim, desenhei para o meu sobrinho o círculo trigonométrico, o problema do triângulo, dos eixos, do seno, co-seno e tangente, e fui explicando qual era a função de cada coisa, e, principalmente a sua aplicação prática, através das equações que dali derivavam e que resolviam muitos problemas no campo da matemática. Ao final da explicação, ele exclamou: puxa como ficou fácil de entender com a tua explicação, eu também até hoje não tinha entendido para que servia esta “naba”.
Este é exatamente o problema: os professores não explicam, de saída, para que serve aquilo que está tendendo passar para os seus alunos. Tudo deve ter um objetivo na vida. Se eu preciso estudar trigonometria, deve haver uma utilidade prática. Por que eu não deveria conhecer esta necessidade de tal conhecimento técnico?
Muita gente tem verdadeiro horror de estudar exatamente por este distanciamento do mundo teórico da escola para o mundo prático. Eu tinha um professor, que por sinal me encontrei outro dia, Prof. Paulo Leibel de Moraes, o qual ensinava física com aplicação prática no cotidiano. Ora, era muito mais fácil de entender. Para explicar o que era física, ele fugia dos antigos conceitos da diferença entre os fenômenos físicos e químicos, e dizia logo: física é o que nós vamos estudar neste semestre, e acabava com a discussão. Ele tinha (e tem) uma noção exata de que não interessam os conceitos e sim a finalidade, o objetivo prático da matéria em nossas vidas.
Eu costumava alfinetar os sociólogos dizendo que a sociologia consistia em estudar o óbvio metodicamente. Hostilizava os economistas dizendo que eram ótimos historiadores e péssimos profetas. É claro que se trava de meras brincadeiras com os profissionais, mas tinham o sentido de criticar o academicismo tolo, sem qualquer efeito prático.
Quando lecionava na universidade, nós que trabalhávamos em nossas respectivas profissões ligadas às matérias que ministrávamos éramos chamados de “professores de balcão” pelos professores que faziam do magistério a única atividade laboral. Eles se esforçavam para falar difícil diante dos alunos, enquanto nós só tínhamos o objetivo de passar aos acadêmicos lições que fossem úteis nas suas futuras vidas profissionais.
É insuportável conversar com pessoas que estão fazendo mestrado ou doutorado, eles fazem questão de empoar a conversa, usar termos fora do contexto do cotidiano, numa chateação sem fim, como se o seu assunto fosse de grande interesse dos seus interlocutores. Para eles nós os não mestrandos ou não doutorando somos uma raça inferior a ser humilhada com os seus profundos conhecimentos. Como se um trabalho sobre o direito ecológico da Dinamarca lhe conferisse uma auréola divina a lhe iluminar a face.
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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