segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

DORAVANTE: AMÉM.

Sempre gostamos de uma polêmica. Não raro, somos acusados de defender uma idéia que era oposta a nossa somente para discutir com um conhecido ou amigo. Uma forma de aguçar o convencimento e argumentação. Nos últimos tempos, porém, estamos perdendo a vontade de discutir, e até de defender idéias próprias.
As pessoas não ficam mais no campo das idéias para defender as suas. Quase sempre descambam para nos atacar, até moralmente. Se não gostam do que se escrevemos ou falamos, não utilizam argumentos contrários, já nos chamam de ignorantes, de despreparados ou de imaturos.
Assim não vale a pena discutir: preferimos concordar com o interlocutor zangado, e nos retirarmos à francesa. Será covardia? Até certo ponto, sim. Para que sejamos valentes, precisamos, sobretudo, de motivação, e esta está ausente nos últimos tempos.
Entrar numa polêmica somente por discutir, sem qualquer possibilidade de alterar o pensamento do nosso interlocutor ou o nosso é pura perda de tempo.
Por que a gente costuma dizer que não vale a pena discutir futebol, religião ou ideologia política? É fácil: nestes três assuntos não há qualquer possibilidade de mudar a posição de nosso adversário na discussão. Se for certo que terminaremos a discussão exatamente como começamos, então estamos participando da dita conversa fora. E, se existe uma coisa que não gostamos e de jogar conversa fora.
Ainda ontem assistimos a um programa de debate na tevê estatal, onde um jornalista e escritor discutia com um secretário de estado, e, ainda, com um velho professor de jornalismo. Este último falava da soberba dos chamados intelectuais sobre o pensamento dos comuns mortais. O professor foi valente, pois, o mediador do debate é exatamente este tipo de intelectual, onde somente ele está certo, por mais estranha que seja sua posição em qualquer assunto. Ficou ali patente mais uma vez a arrogância a esmagar as pessoas que não fazem parte deste verdadeiro grupo fechado.
Vimos também, no citado programa, uma coisa que nos irrita profundamente, e , até, algumas vezes nos faz sair do sério, o deboche. Não gostamos de gente debochada, mesmo que o deboche seja um tipo artificial, formado exatamente para se fazer notar.
O espaço entre a irreverência e a grossura é muito estreito. É muito difícil achar hoje uma pessoa que se acha irreverente e não caia na armadilha da grossura. Tipos irreverentes puros como Nelson Rodrigues, Moreira da Silva, Chacrinha e até Alceu Collares são cada vez mais raros.
Assim, não nos desafiem mais para qualquer polêmica que não estamos interessados.
É claro que não chegaremos ao ponto do famoso personagem do Jô Soares, o Múcio, o qual usava um jargão “tirou daqui” indicando a boca. Concordava sempre com a pessoa que estava falando, se esta mudasse de idéia ele imediatamente aderia, de tal sorte que sempre ficava de bem com a pessoa que estava falando, mas estamos saindo da raia. Doravante: amém.

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