domingo, 20 de julho de 2008

PIAF OU DERCY-LIÇÕES TORTAS DE VIDA

Há muitos anos ouvia falar de uma peça de Bibi Ferreira chamada Piaf. Quem não sabe quem é Bibi Ferreira, fique sabendo que, ao contrário do que os globais dizem é a maior dama do teatro nacional, superando a preferida deles a também impagável Fernando Montenegro. É filha do falecido e legendário ator e diretor de teatro Procópio Ferreira, teve uma passagem muito curta pela telinha, pelo que hoje não é muito conhecida do povo em geral.
O tema da sua peça - que nunca assisti – nunca me atraiu, pois pensava não ter nada de interessante na vida de uma atriz francesa. Pois neste último sábado assisti em DVD o filme PIAF-UM HINO AO AMOR, com a maravilhosa Marion Cotilard no papel de Edith Piaf. Gizo a obviedade de que a interpretação de Cotilard mereceu o prêmio da Academy Awards, mais conhecido como Oscar como melhor atriz. Acho que jamais os membros da academia tiveram um trabalho tão fácil para apontá-la como ganhadora do prêmio.
A gente sente que a interpretação de algum artista é maravilhosa quando ela supera até a figura principal ou verdadeira. Isso já aconteceu muitas vezes. Um exemplo claro é a interpretação de A Rainha de Helen Mirren, onde a artista estava melhor que a própria Elizabeth II em seu próprio papel.
A história de Piaf é uma tragédia só. O sofrimento acompanhou a personagem desde o seu nascimento à sua morte. A decadência física que marcou o fim de Edith foi narrada magistralmente por Cotilard, numa interpretação comovente e histórica.
Ver o filme Piaf, com todo o seu drama, no exato dia em que tive notícia de morte de Dercy Gonçalves, me trouxe a lume várias reflexões. Quem foi na verdade Dercy Gonçalves? Além de sua longa vida, distribuída em 101 anos, o que fez a veterana atriz para marcar sua presença no cenário artístico brasileiro?
Ela na verdade foi uma artista comum, sem qualquer lustro maior, salientando-se, entretanto, por sua completa irreverência e despudor, numa época em que qualquer deslize verbal era punido.
Dercy era uma desbocada, pois dizia palavrão onde bem entendia, na hora que lhe aprouvesse. Entrevistar Dercy era um desafio ao jornalista, pois poderia ser surpreendido a qualquer momento com uma palavra chula a lhe embaraçar a entrevista.
Sabendo disto, muita gente dela se aproveitava, num desfile de mau gosto, a colocar a idosa senhora em papéis ridículos, tais como desfilar com os seios à mostra aos 90 anos de idade em carro alegórico no Sambódromo carioca.
Mário Quintana – o poeta – costuma dizer, já no final de seu longo andar, que a vantagem de ter mais de 80 anos era que podia dizer as maiores besteiras que todo mundo achava bonito. Pois Dercy sofria deste mal, não se dava conta do papel ridículo que lhe faziam passar.
Edith Piaf no final de sua carreira e vida, também não se dava conta do seu triste papel, já que não tinha mais condições de se apresentar em público. O artista tem que saber quando parar. É melhor que o seu público fique com a sua imagem de vencedor, a ter reter em suas retinas a imagem do ídolo decadente, tal como até hoje ainda carregamos a imagem triste de Mané Garrincha.
Nesta linha andaram Piaf e Dercy. Que pena!

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