quarta-feira, 23 de julho de 2008

TEMPO DE FORMATURA

Hoje recebi o convite de formatura de minha irmã Ivanir na PUC/RS, que será realizada no próximo dia 02.07, fato que muito me orgulha, pois se trata de uma vitória pessoal, individual e, sobretudo, determinada. A par de todas as adversidades, ela está conseguindo se graduar numa das maiores e melhores universidades do Estado, o que lhe garantirá certamente grande proveito.
O fato me fez lembrar a minha formatura em 1979, na centenária Faculdade de Direito da Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Sul. A cerimônia, tal como eram todas as da época, se revestiu de grande solenidade.
A UFRGS tinha um departamento denominado de Cerimonial, o qual mantinha as formaturas dentro de um padrão de comportamento, onde não se via qualquer quebra de protocolo.
Nós mesmos, os formandos, não queríamos qualquer tipo de atitude pouco ortodoxa, haja vista que levávamos muito a sério a cerimônia de colação de grau.
Nos últimos tempos, tenho assistido de tudo nas formaturas, incluindo fundo musical, discurso individual, charanga, bandinha, corneta, apupos, faixas, gritos de ordem (ou de desordem).
Alguns comportamentos até extrapolam da sanidade mental. Já vi aluno ao ser chamado, se dirigir ao centro do palco, e começar a dançar um pagode ou samba, sei lá o que era aquilo. Já vi centenas de formandos chegarem ao microfone e largarem ganidos, gritos ou verdadeiros uivos.
Fico me perguntando, quem usaria o serviço de um médico que na sua formatura saiu dançando um samba, chegou ao microfone e deu dois latidos, e gritou: - valeu coroa?
A formatura virou um show, não é feita mais para o formando e seus convidados e sim para as câmeras de televisão. Não raro, a platéia de convidados e familiares não assistem o discurso inicial do reitor e sim enxergam tão-somente as bundas dos cinegrafistas e fotógrafos, os quais se acotovelam na frente da mesa diretora dos trabalhos.
Tem telão, onde passa a vida do formando, fotografia do pai e da mãe, do tio e da avó. A gente assiste filmes das festas preparatórias das formaturas, ensaios e cenas do cotidiano da faculdade.
Outro tipo de problema, o qual - graças a Deus – está sumindo onde o orador desancava em cima da faculdade que acabava de concluir. Dizia que a Universidade era uma porcaria, que a faculdade era fraca, que os professores eram incompetentes, e por aí a fora. Eu até já tinha ensaiado: na próxima vez que acontecesse isso em formatura, na qual eu estivesse presente, eu me levantaria e diria: - Muito obrigado, senhor formando, estou prevenido e de forma alguma irei usar os seus serviços profissionais, já que o senhor foi preparado de forma tão incompetente.
Por outro lado, outro dia na UFRGS, um dos alunos em seu discurso, disse que estava ali para agradecer o contribuinte brasileiro que tinha possibilitado o seu estudo numa universidade pública gratuita e de qualidade. Confesso que me escapou uma lágrima. Ali estava exatamente a figura do formando consciente de seu papel na sociedade. Aquela pessoa, com a sua pequena observação, demonstrou um enorme conhecimento da realidade do país, e certamente levará por toda a vida este tipo de comportamento, de que tanto o Brasil necessita. Pessoas que, como preconizava JFK - o Presidente Americano morto em 1963- têm que perguntar não o que o pais pode fazer por elas, mas o que elas pode fazer pelo país. Este formando reconheceu o que o seu país fizera por ele, e certamente durante a sua vida profissional retribuirá o que recebeu do contribuinte brasileiro. Este exemplo se repetiu algumas vezes, mas é uma honrosa exceção, ainda, infelizmente.
Já conversei com alguns dos festeiros sobre o assunto. Afinal queria saber a opinião deles sobre o assunto. Eles alegam, resumindo, que se trata de uma ocasião festiva, e que não existe motivo algum para frear toda a energia resultante do estado de euforia a que estão submetidos.
Tudo bem, só que se estão com o intuito de anarquizar a sua própria formatura, devem escolher um tipo de solenidade menos formal. Por que a toga e barrete? Querem-se na informalidade, nada mais estranho do que este tipo de veste talar. Quer uma coisa mais ridícula que um sujeito de toga pulando feito um macaco no meio do palco em direção à mesa do cerimonial, e a platéia batendo palma e gritando?
Desculpem-me os moderninos, mas eu sou um ser conservador, gosto de ir a uma formatura, onde todos estão com suas togas e barretes, recebem os seus canudos. Onde cada orador faz o seu discurso bem elaborado, com introdução, desenvolvimento e conclusão, tal como uma bela redação. Não fui orador de minha turma, mas já escrevi discursos de formatura a pedido de outros, onde fiz exatamente um histórico da vida acadêmica, elogiando a universidade, alguma coisa de política nacional, agradecimentos de praxe aos afetos, amigos e sociedade.
Quando penso em minha formatura, penso com orgulho, a imagem que me vem na lembrança é a de nós lá sentados, uniformizados, sendo chamados um-a-um, recebendo os diplomas; a platéia batendo palma para cada formando de forma civilizada. Será que é feio fazer assim? Será que a formatura fica deslustrada. Será que diminui o grau de felicidade do formando?
Lá na sua festa particular, se o formando entender de fazer um strip-tease, que o faça junto aos seus, os quais já lhe conhecem, e saberão entender o seu comportamento, sem surpresas. Não carece eu tenha que aturar um maluquete somente por que ele está ser formando junto com o meu amigo ou afeto.
A formatura é um dos acontecimentos mais importantes e bonitas da vida da pessoa, qual o motivo de torná-lo uma verdadeira algaraviada?
Vamos às formaturas com este espírito de solenidade, lugar onde a formalidade é chave de todo o processo, onde cada vestimenta, cada gesto, cada pessoa têm o seu significado próprio.
Lembrem do tema positivista de nossa bandeira, a ordem como princípio o progresso como fim.

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