sábado, 29 de março de 2008

CERTO PACHECO

Eça de Queiroz foi o maior escritor da língua portuguesa. Dele, tenho a obra completa. Embora não a tenha lido toda, concordo com a afirmativa. Um dos livros que li foi A CORRESPONDÊNCIA DE FRADIQUE MENDES. Lá se encontra uma das cartas escrita a E.Mollinet.
Dizia ele ao seu correspondente – Mollinet – que a morte do Pacheco - José Joaquim Alves Pacheco está sendo chorada enormemente nos jornais de Portugal, pois queria ele saber quais obras, que fundações, que livros ou que idéias, ou ainda que acréscimo na civilização portuguesa teria deixado o tal Pacheco, para merecer tão reverentes lágrimas.
Contava, que na verdade, o tal Pacheco não tinha dado ao seu País, e de resto à humanidade, qualquer obra, nem fundação, nem livro, nem uma idéia. Teria ficado somente na fama de ter um grande talento. Ora, o tal talento tinha ficado somente para ele, lá em suas profundidades
Todavia o talento de Pacheco tinha se tornado um credo nacional.
No final de seu texto, diz Eça que depois da morte de Pacheco, encontrou sua viúva, na cidade de Sintra, tendo ele lamentado a morte do distinto. Declarou à senhora que estava comovido pelo passamento do imenso talento que seria Pacheco. A viúva se restringiu a “num brusco ato de espanto, levantar os olhos e num fugidio, triste, quase apiedado sorriso arregaçando os cantos da boca.. Eterno de acordo dos destinos humanos! Aquela mediana senhora nunca compreendera aquele imenso talento!” Encerrou E. de Queiroz.
A descoberta deste texto escondido na vasta obra de Eça de Queiroz, não é minha é de meu saudoso amigo José Sérgio Ferreira, de quem tenho saudade dos longos papos sobre literatura nos cafés do nosso centro.
Por que trouxe este texto à baila? Ora, ele nunca esteve tão atual.
As pessoas dizem que fulano é muito inteligente. Esta fama se espalha, faltando alguém que pergunte? Mas afinal de contas, que obras fez este homem, que idéias apresentou, o que de bom foi aproveitado desta sua dita inteligência?
São inúmeros os casos, principalmente no meio político e intelectual. Trago à baila o nome do baixinho sinistro Delfim Neto, que é tido como um ser muito inteligente, e até pode ser, mas que contribuição teria ele dado ao país? O que teria restado de sua passagem pela política nacional. Inúmeros outros casos de entronização intelectual podem ser levantados, mas num exame profundo, vamos ver que nada fizeram a justificar a fama. Na verdade, não passam de uns pachecos. Até na crônica esportiva, temos os intelectuais – ditos professores - que se esmeram em falar pomposamente a justificar sua fama de inteligentes, mas que se olharmos a fundo não encontraremos nada para amparar seus sublinhados.
Temos que ser mais rigorosos com a adjetivação das pessoas públicas. Conferir se a fama fecha com as obras realizadas pelos famosos. Na ausência ou insuficiência delas, deixamo-los em seu devido lugar, ou seja, nas prateleiras dos descartáveis, de preferência com um epitáfio: AQUI JAZ MAIS UM PACHECO!

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