Hoje pela manhã, recebi de meu irmão Alfredo – o Dinho – uma poesia do poeta Jayme Caetano Braun.
Ela trata da sesta, tentando explicar qual o motivo que os guris, a criançada em geral, não sesteia.
Vejam lá:
Hora da Sesta
O sol parece uma brasa/na cinza do firmamento./Sobre o campo sonolento/ninguém está de vigília,/na lagoa - uma novilha,/bebe - de ventas franzidas/e duas graças perdidas/sentam na grama tordilha.
No galpão - tudo é silêncio,/e a cachorrada cochila/e a peonada se perfila,/estirada nos arreios,/só se escutam os floreios/da mamangava lubana/fazendo zoada, importuna,/nos buracos dos esteios.
Rompe o silêncio da seta/na guajuvira da frente/o tá-tá-tá impertinente/do bico dum pica-pau.
No galpão - um índio mau/quase enleia na açoiteira/a naniquinha poedeira/que vem botar no jirau.
Mas a soneira é mais forte/do que os gritos da galinha/e até as chinas da cozinha/cochicham meio em segredo,/Não há rumor no arvoredo,/nos bretes e nas mangueiras,/dormem as velhas figueiras/só quem não dorme é o piazedo.
É hora de caçar lagartos/e peleguear camoatim,/hora das artes sim fim/que o grande faz que ignora
e quanto guri de fora/criado no desamor,/numa infância de rigor/só foi guri nessa hora.
Hora de sesta - Saudades,/de juventude e de infância,/Hoje - ao te ver à distância,/quando a vida já raleia,qual um sol bruxoleia/num canhadão se perdendo,/hoje - afinal - eu compreendo/por que guri não sesteia!
Maravilhoso, não?
Pois o velho pajador nasceu em 1924 e morreu, para a tristeza nossa, em 1999. Tinha nascido na pequena Timbaúva, interior de São Luiz Gonzaga, Missões, Rio Grande do Sul.
Pajador é o que recita “payada” . Trata-se de verso oral, composto de sete sílabas métricas, geralmente acompanhadas ao violão, não raro de improviso.
Ele foi o maior que existiu por estas bandas.
Dizia ele sobre a morte:
“ E um dia, quando souberes /Que este gaúcho morreu,/Nalgum livro serás eu
E nesse novo viver/Eu somente quero ser/A mais apagada imagem/Deste Rio Grande selvagem
Que até morto hei de querer!”
Volto eu: você se enganou, velho poeta, não serás jamais um apagada imagem, pelo contrário estarás vivo em cada verso recitado pelo gaúcho.
Para ter uma idéia de quem se trata, leiam o que disse Paulo Santana no jornal Zero Hora quando do seu passamento:
...“Oseu cântico tinha o cheiro da tapera, do rancho de pau-a-pique, do zaino, do guamirim, do quero-quero, do camoatim.
Mas principalmente seus versos canoro endeusavam o xiru, o índio, o negro, personagens pampianas que se misturavam aos apetrechos que impunha a solidão, aporreada somente pelas pausas semanais da cana, do fandango, da rinha, das carreiras, do namoro com a china, do esparramo das rixas de facão e revólveres, tão bem narrados nos versos encantados deste gigante da poesia xucra que sepultamos ontem."
Jayme Caetano Braum não morrerá jamais, pois estará presente na voz de todos os poetas e cantadores deste chão gaúcho.
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
quarta-feira, 26 de março de 2008
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Um comentário:
ESSA POESIA ME FEZ LEMBRAR TAMBÉM AQUELA DO MESMO AUTOR
O Bochincho
Autoria: Jayme Caetano Braun
A um bochincho - certa feita,
Fui chegando - de curioso,
Que o vicio - é que nem sarnoso,
nunca pára - nem se ajeita.
Baile de gente direita
Vi, de pronto, que não era,
Na noite de primavera
Gaguejava a voz dum tango
E eu sou louco por fandango
Que nem pinto por quireral.ETC,ETC.ETC ......É MUITO GRANDE.....
SENSACIONAL ESSE AUTOR....ESSA POESIA O SELSO SABE TODINHA...MAIS COMPRIDA QUE ESPERANÇA DO POVO BRASILEIRO!hauhuahua
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