quarta-feira, 11 de junho de 2008

PAULO FRANCIS DIRETO DE NEW YORK CITY

Muita gente não gostava de Paulo Francis. Embora ele tenha participado do famoso e inesquecível grupo de o PASQUIM, o lendário tablóide que combateu os governos militares, e que só agora com a indenização recebida por Ziraldo descobrimos que se tratava somente de um investimento, era tachado pela esquerdalha como de direita.
Ele escreveu livros muito interessantes, os quais tenho alguns em minha biblioteca, entre eles Waaal - O Dicionário da Corte, editado pela Companhia das Letras.
Por seu estilo sarcástico, era odiado por muita gente. Intelectual de grande conhecimento das letras e artes em geral, residia em New York, onde morreu.
Estava sendo processado pelo presidente da Petrobrás, o que lhe causou grandes aborrecimentos, e depressão que pode ter lhe levado a morte.
No Waaal ele vem com verbetes onde dá a sua opinião sobre tudo, e principalmente sobre todos.
Sobre chuva, diz ele que Toró depois de muitos dias de seca. Chato. Chuva é bom para as colheitas, mas eu não sou colheita.
Comunismo, a melhor propaganda anticomunista é deixar os comunistas falarem.
Sobre Cuba: é a própria desconstrução. Importa açúcar, de que é grande produtora, e exporta óleo, que não tem.
O meu verbete favorito é o “ escrever “ , segundo ele escrever é a maior satisfação que um autor pode ter, um diálogo íntimo com um leitor desconhecido. É o que sinto e passagens de Joyce (James), Dostoievski e outros favoritos, a impressão de que eles escreveram aquilo exclusivamente para mim.
Sobre esportes, arrasou: tolerância de tênis: dez minutos; basquete: cinco minutos; futebol americano: cinco minutos; beisebol; zero minuto.
Não percam este sobre Vera Fischer: Vera me bloqueia qualquer pensamento que não seja sexual. Ela tem o ar de madre superiora sendo tomada à força.
Autobiográfico: Francis, Paulo – Eu sou o que se chama um “radical órfão”. Não acredito em nada, nem em socialismo, nem em capitalismo. Procuro ser um bom jornalista, cumprir meu dever, ganhar a vida.
Neste aqui parece que combinamos: Ideologia, durante alguns anos fez vista grossa às implausibilidade e desconversa das esquerdas. Até que achei que não era compatível com quem toma banho todo o dia. Nunca apoiei governo algum. Acho que é um dever do jornalista adotar o moto dos anarquistas. Hay gobierno, sou contra. Adios.
Em “ler” – leio mais de cem livros ao ano. Não digo que termine todos. Ao contrário, termino raros e pulo passagens que não me interessam em quase todos.
Sobre o próprio Pasquim fulminou: Não acho que tenha sido o humor, por si, que tenha vendido tanto O Pasquim. Foi a censura que vendeu o jornal. Censurados, não podíamos espinafrar o regime, logo tivemos de dar asas à nossa imaginação, como dizem, e não cair nas reclamações monocórdias típicas da esquerda.
Aqui abro um parêntese, para dizer que fui um leitor de O Pasquim, esperando sempre por sua nova edição. Tudo em função da censura. Anos passados, eles resolvem lançar ma antologia de O Pasquim, iniciando é claro pelos primeiros números, fui correndo comprar e, ao ler, que decepção. Na verdade não foi O Pasquim que mudou ele estava ali do mesmo jeitão, eu é que não sou mais ou mesmo, nem os tempos...
Finalizo com uma autocrítica de Paulo Francis: “Dizem que ofendo as pessoas.É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão comum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue.”
Este era Paulo Francis, um irreverente. Não um grosso. As pessoas fazem confusão entre irreverência e grossura. O irreverente é um sincero, com um pouco de ironia, enquanto o grosso é um falso, com um pouco de falta de educação.
É claro que o saudoso Paulo Francis fazia parte do primeiro time. Faz muita falta.

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