sexta-feira, 20 de junho de 2008

UM POUCO DE ECONOMIA POLÍTICA

Faz tempo que não me visita o meu velho professor de economia política, grande figura o Professor Giovanni Biasotti, com quem tenho grandes papos sobre econômica, obviamente, mas principalmente sobre política atual.
Lembrando as lições do mestre, o estudo da economia como ciência começa, sem dúvida, com o livro de Adam Smith (o pai da economia) a RIQUEZA DAS NAÇÕES, e ombreando com ele, como principais representantes da escola clássica de Economia, além do super conhecidos Malthus, está David Ricardo. Nascido em 1772, falecido em 1823, dizia que a ciência econômica determinada quais as leis naturais orientavam a distribuição das riquezas, numa análise das perspectivas de seu tempo, e sempre com preocupação na necessidade de um crescimento a longo prazo.
Para Adam Smith e Ricardo o trabalho na indústria, além do agrícola, era fonte de riqueza, num trabalho livre, sem intervenção, guiado pela própria natureza. È claro, sem os exageros do pessoal do “Laissez faire, laissez passez” ( algo como Deixa fazer, deixa passar) de Gournay e Quesnay, os quais defendiam a liberdade total, inclusive com a abolição das aduanas, dos regulamentos e das associações.
Pensando nisso tudo, imaginei escrever um livro sobre a inédita e economia brasileira. Ela não tem parâmetro no mundo. Por aqui tudo funciona ao contrário, é claro sempre no sentido de prejudicar o povo em geral, e facilitar a vida dos agentes econômicos.
Inicio falando de um dos mais antigos princípios do capitalismo, ou seja, a lei da oferta e da procura. Como ela funciona? Vou explicar em linguagem leiga: se eu tenho pouca oferta do produto, e muita demanda, ele aumenta; se, contrário senso, eu tenho muita oferta do produto, e pouca demanda, ele tende a baixar de preço. Assim o é, em todo o mundo capitalista, menos do Brasil.
A lei da oferta e da procura, por aqui, funciona assim: se o comerciante está vendendo muito, ele aumenta o produto para se aproveitar da grande procura, numa aplicação exata da lei da oferta e da procura. Entretanto, quando o contrário acontece, ou seja, não há procura, e a demanda é pouca, ou invés de baixar o preço, o nosso comerciante aumenta para compensar junto aos poucos consumidores desavisados os compradores que deixam de adquirir os produtos.
Em qualquer lugar do planeta, o país que está em crise vê sua moeda baixar de cotação no mercado mundial. No Brasil, deu a notícia que o EUA estava em dificuldades, imediatamente o dólar subiu. Ora, a moeda do país que se apresentou em crise subiu, e no nosso país que não tinha nada com isso teve a moeda desvalorizada. O absurdo é total. No Japão, a notícia da crise americana resultou no aumento da cotação da moeda local – o iene – e a baixa imediata do dólar.
No mercado mundial, a baixa procura de dinheiro emprestado faz com que a taxa de juros baixe, aqui acontece o contrário, baixando o número de pessoas tomando emprestados, os agentes econômicos para compensar esfolam os remanescentes tomadores de mútuos (empréstimo de dinheiro). Por aqui, o governo aumenta a correção de seus títulos públicos – de 11% para 12% ao ano. Isto em qualquer lugar do mundo resultaria no aumento da taxa bancária de juros por volta de 0,5% a no máximo 1% de juros ao ano.
Por aqui, o aumento de 1% na taxa anual da SELIC provoca aumento de 2%na taxa mensal de juros.
Nos países sérios, quando um insumo de uma mercadoria aumenta de preço, o comerciante verifica que participação tem aquele insumo na sua produção, e calcula quanto ele repercutirá no produto. Assim, por exemplo: eu fabrico aviões. Aumento o preço da hélice. Vou verificar de quanto é a participação da hélice no preço final do produto, descubro que é cerca de10%. Se o insumo aumentou 10%, devo aumentar minha mercadoria em 1% para compensar. Sabe o que acontece por aqui? Os nossos agentes econômicos aumentam diretamente a mercadoria em 10%, como se todos os insumos tivessem tido o mesmo aumento, e principalmente o aumento do lucro em dez por cento.
Como existe um déficit crônico na Previdência, o governo arrochou os benefícios dos aposentados que ganham acima de um salário mínimo. Em compensação, aumentou a distribuição de benefícios aos não contribuintes da previdência social.
As empresas participam das concorrências públicas, ganhando a de menor preço. No meio do contrato a firma que apresentou preço menor, alega que teve aumento de custo, e necessita de complemento, e é logo atendida.
Nos países adiantados, quando mais experiente o empregado, mais prestígio ele tem, por aqui o que interessa é quanto ele passa na coluna da folha de pagamento. Se ele começa a ficar muito saliente na coluna da direita, logo é convidado a sair.
Na Europa e nos EUA o banco toma dinheiro junto aos particulares, e empresta com um valor pouco maior ao tomador final, cliente do banco, cobrando uma taxa de juros um pouco maior que aquele de quem lhe alcançou em confiança o dinheiro. Esta diferença entre o valor tomado pelo banco, e o que emprestou ao seu cliente é chamado de SPREAD.
Nestas plagas temos os maiores SPREADS do mundo. Ou seja, a diferença entre a taxa de captação e a de aplicação é elevadíssima.
Os bancos captam a 19% ao ano, e emprestam a 60% ao ano aos seus melhores clientes. No cheque especial, captam nos mesmos 19% ao ano, e emprestam entre 150% a 200% ao ano.
Por que isso acontece? Ora é mais confortável ao aplicador emprestar dinheiro a 19% ao ano do que jogar na atividade econômica, onde dificilmente terá um rendimento sequer próximo aos 19%. Como a procura de empréstimo é grande, os bancos deitam e rolam, cobrando a taxa que bem entendem. Como constituem um grande bloco cobram as taxas que bem entendem. Mantém um acordo não escrito de manter as taxas elevadas, driblando assim a livre concorrência que poderia baixar as taxas.
Quer outro exemplo de distorção econômica brasileira? O petróleo aumenta no mercado mundial, a gasolina não aumenta. O álcool, inteiramente brasileiro assim que a gasolina ameaça aumentar de preço já salta na frente.
O Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores do Brasil em alimentos, por que a cesta básica daqui é a mais cara do Brasil?
Realmente a nossa econômica é totalmente “sui geniris” carecendo de um manual de econômica a explicá-la.
Se bem que, costumo dizer (para indignação dos meus amigos) economistas, que no meu entender eles são ótimos historiadores e péssimos profetas. Eles sabem dar explicações sobre tudo o que aconteceu na economia, mas não sabem opinar, nem montar uma estrutura eficiente a ponto de formar um bom futuro na economia do país.
Mas o nosso país é muito forte e rico, pois ao que parece vai sobreviver a dois mandatos do Lulla Lá. Genuflexamos todos que a atual conjunta internacional favorável – a qual já começa a apresentar sinais de cansaço – dure até o final do mandato do atual presidente, e dure também no próximo, pois senão a economia vai ficar muito complicada.

(o Prof. Giovanni Biasotti foi professor de Economia Política na FAC. DIR/UFRGS. O retrato que ilustra é de DAVID RICARDO)

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