quarta-feira, 28 de maio de 2008

BAR DO MANOLO: LÁ ESTAVA MÁRIO, E EU...


Conheci Mário Quintana na Rua General Andrade Neves, no centro de Porto Alegre. Era um barzinho, destes comuns, onde as pessoas vão tomar cachaça ou cerveja. Tinha também um balcão, onde o dono do bar, um espanhol de nome Manolo, nos servia o cafezinho. Mário ficava sentado numa pequena mesa de dois lugares. Geralmente estava sozinho. Confesso que não me lembro se ele tomava café ou bebia alguma outra coisa. A imagem não está muito clara para mim, não tenho o talento de memória de meu irmão Alfredo.
Mário Quintana era uma figura bem interessante e rica. Ele nasceu no Alegrete em 30.07.1906, portanto faria este ano 102, mas morreu em 05.05.1994, para a tristeza de seus fãs e admiradores, entre eles evidentemente quem escreve aqui estas modestas linhas.
Ele foi um bom poeta, e um excelente tradutor. Trabalhou muito tempo para a Editora Globo. É sim, tivemos por aqui uma grande livraria e editora chamada Globo, a qual publicava os grandes clássicos da literatura, os quais eram traduzidos por pessoas de grande gabarito como Mário e Érico Veríssimo.
A obra de Quintana não é muito grande.
Para quem não gosta muito de poesia, aconselho ler Caderno H,onde Mário expressa de maneira brilhante todo o seu talento e humor. Você encontrará lá frases maravilhosas como:
“Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.”
Não é uma maravilha?
“O passado não conhece o seu lugar está sempre presente.”
Veja o genial jogo de palavras e figuras.
E, olha a veia do poeta, num rasgo maravilhoso, e que a mim muito comove:
“Todas as amadas chamam-se Maria”.
“O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo...” Esta frase eu mantive durante muito tempo em minha mesa de trabalho.
Uma alfinetada, de leve, em Charles Darwin:
“O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.”
Esta frase ele pode ter bolado no bar do Manolo:
“Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!”
Esta aqui deveria ser subscrita por todos nós:
“Por que será que a gente vive chorando os amigos mortos e não agüenta os que continuam vivos?”
Mário não tinha qualquer preocupação com o politicamente correto, por isso lançou este ferro no aborto:
“O aborto não é, como dizem, simplesmente um assassinato. É um roubo... Nem pode haver roubo maior. Porque, ao malogrado nascituro, rouba-se-lhe este mundo, o céu, as estrelas, o universo, tudo. O aborto é o roubo infinito"
Encerro aqui, com esta maravilhosa frase do nosso maior poeta vivo. Ué Osnir não disseste lá em cima que ele morreu em 1994. Ora, Santa Inocência, caro leitor, poetas nunca morrem....

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