quinta-feira, 22 de maio de 2008

NÃO MOER LIVROS: UMA LIÇÃO DE NIETZSCHE


Friedrich Nietzsche nasceu em 15.10.1844 em Röcken – Alemanha, e morreu em 25.08.1900 em Weimar – Alemanha. Filósofo e filólogo tem como o seu livro mais importante ASSIM FALOU ZARATUSTRA.
Um dos maiores críticos das religiões, incluindo principalmente a moral cristã e a que lhe deu origem, a judaica, é na verdade um crítico de toda a cultura ocidental. Foi muitas vezes acusado de tendências nazistas, o que foi rechaçado com êxito por Foucault, Marx e o próprio Freud, e outros filósofos importantes.
Dizia que as religiões, principalmente as cristãs e budistas são decadentes. Falava que elas (as religiões) não tinham qualquer aspiração séria.
Acabo de reler ECCE HOMO, numa tradução de Marcelo Backes para a L&PM. Nesta obra o autor, segundo os estudiosos, já apresentava sinais evidentes de loucura. Alguns dizem que levado pela sífilis, o que não é comprovado. A obra tem como subtítulo DE COMO A GENTE SE TORNA O QUE A GENTE É.
Sob o meu ponto de vista, a obra não é de toda insana, eu diria que tem alguns rasgos de loucura, mas a insanidade própria dos gênios. Nela Nietzsche ele apresenta a autobiografia mais reveladora de que se tem notícia. Em um trecho do livro, ele fala das pessoas, que de tanto se dedicar a leitura de livros, acabam por não ter opinião própria. Sabe que este é o meu maior medo, com relação às leituras? Até que ponto as idéias que expresso são minhas, ou foram tiradas, extraídas ou influenciadas por outras pessoas.
Veja o seguinte trecho de Nietzsche, in ECCE HOMO:
“Uma outra mostra de inteligência e autodefesa consiste em reagir tão raramente quanto possível e em evitar lugares e condições nas quais se estaria condenado a suspender de imediato sua “liberdade”, sua iniciativa, para se tornar um simples reagente. Eu tomo a relação com os livros como parâmetro comparativo. O erudito, que no fundo apenas se limita a “moer” livros – o filólogo de atividade mediana, cerca de duzentos por dia, ao fim das contas acaba perdendo por completo a capacidade de pensar por si mesmo. Quando ele não mói, ele não é capaz de pensar. Ele responde a um estímulo (um pensamento lido) quando ele pensa...ao fim e ao cabo ele apenas reage. O erudito gasta toda a sua força em dizer sim e não, na crítica do já pensado – ele mesmo não pensa mais... O instinto da autodefesa tornou-se frouxo nele; pois se assim não fosse ele iria se precaver contra os livros. O erudito – um décadent... Isso eu vi com meus próprios olhos, naturezas talentosas, de tendência livre e fértil, “lidas à ruína” já aos trinta anos, simples palitos de fósforo, que têm de ser friccionados para soltar faíscas – soltar “pensamentos”... Ler um livro de manhã bem cedo, ao nascer do dia, em todo o frescor, na aurora de suas forças – isso eu chamo de vicioso!...”
O que isto tem de loucura? Nada! Trata-se de uma constatação que também é minha, numa atitude que tento sempre evitar ao máximo, mas que também pode me atingir.
Mas, como já diz o próprio Nietzsche, ainda no ECCE HOMO: ... tão certo também eu o sou e sempre haverei de ser um mal-entendido.
Então, encerro recomendando uma leitura atenta de Nietzsche, mas não comece por ECCE HOMO, uma boa sugestão introdutória na obra deste mestre é a sua obra prima ASSIM FALOU ZARATRUSTA. Boa leitura.

Um comentário:

abuelitapeligrosa.blogspot.com disse...

Parabéns,Sr. (ou Sra.), não sei ainda, A VERSÃO DO ESCORPIÃO.
Morro de inveja (branca) das pessoas que conseguem ler Filosofia. Leio de tudo na vida, adoro poesia, mas há duas coisas que não consegui domar em mim: disciplina para ler Filosofia e Ulisses, não o grego, o outro. O grego eu consegui ler. Quanto ao outro, nunca saí da quinta página.
Mas depois do que vi aqui, até foi bom não ter lido tanto, não ter "moído" livros contra minha vontade. Se assim fosse, eu seria um ensaísta e pseudointelectual tão chato quanto os que Nietzsche cita.

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