quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

OS QUE PARTEM CEDO

É muito chato ler os clássicos da literatura e poesia, ouvi dizer.
Esta frase é parcialmente verdadeira. Existe um tipo de literatura ou poesia que a gente deve ler por ser histórica, por representar determinada época, ou ainda por ter sido marco de uma nova era. Nesta linha estão A Odisséia e Ilíada.
Existem, porém, obras que são eternas e sempre atuais. Machado de Assis, Eça de Queiroz, Antônio Pessoa e Augusto dos Anjos. Não poderia deixar de incluir aqui Fédor Dostoiveski – o inigualável – que é um eterno atual. Até Camões parece atualizado. Vejam o exemplo:

ALMA MINHA GENTIL QUE TE PARTISTE

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguña cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

O poeta inicia lamentando que o seu afeto partiu cedo demais, o deixando aqui sempre triste. Segue, em seguna estrofe, fazendo um exercício de imaginação de que no céu se é dado ter memória da vida aqui na terra, pede a seu afeto que se lembre do seu amor. Finaliza rogando que Deus o leve com a mesma pressa que levou sua amada.
Na verdade, o sentimento belo não tem idade, nem época, é imortal, como o são os versos de Camões.

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