quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

VERBO AD VERBUM

Nestes tempos de nova ortografia, eu me lembrei de uma pergunta boba que fazem nos questionários particulares, mas principalmente nas entrevistas em jornais e revistas: qual a mais bonita palavra da língua portuguesa? Na verdade, o perqueridor quer ouvir o chavão: SAUDADE, e quase sempre é a resposta que recebe.
Saudade é uma palavra comum, sem qualquer efeito sonoro a nos impressionar os tímpanos. As pessoas confundem o conteúdo, ou seja, o significado do vocábulo com a qualidade da palavra enquanto forma escrita.
Outra bobagem é dizer que saudade somente existe na língua portuguesa. Isso não é verdade. Inexiste em algumas línguas. O francês para explicar saudade diria: Désir ardent d’um bien dont est prive. Ou seja, puta vontade de estar com o seu bem querer, quando ele não está (Que maravilha de tradução: superei-me nesta). O inglês usaria longing ou homesickness. Os espanhóis e italianos usariam nostalgia. Os alemães usariam sehnsucht, mas na verdade não precisam da palavra, pois nunca sentem saudade de nada.
Voltando à palavra mais bonita, eu elegi uma que infelizmente mudou um pouco a cara, trata-se de qüiproquó. Não é que ela perdeu o maravilhoso trema, e agora está menos elegante em seu quiproquó. Se bem que a pronuncia não mudou. Saiu o sinal trema, dedo-duro, para dizer que ali o “u” era pronunciado, mas a forma de falar continua a mesma. Comparar a beleza de qüiproquó com saudade é covardia da primeira.
Em matéria de excentricidade, no sentido de fora do comum, tem gente que apela para a grande inconstitucionalissimamente. Já li que a palavra não existe, pois nem no dicionário está. Em primeiro lugar, nem todas as palavras estão no dicionário, nem por isso deixam de fazer parte da língua. Em segundo lugar, basta que a gente faça uma divisão da palavra para verificar que é viável sob o ponto de vista da língua portuguesa.
Veja bem: prefixo in significa não; constitucional significa obviamente aquilo que atende a constituição; lissima é um superlativo, ou seja, o exagero, o levar ao extremo; e mente é o modo. Traduzindo a palavra para linguagem comum do povo trata-se de agir no extremo da insconstitucionalidade, ou seja, muito fora da Carta Magna.
Se a palavra enorme existe, nem por isso é bonita, pelo contrário é um estorvo ao bom falar.
Para dar um exemplo que nem sempre o lindo da palavra combina com o seu significado: Ébola é uma linda palavra, mas se trata de um terrível e mortal vírus, enquanto a palavra feia preguiça pode representar também um lindo e simpático animal.
Palavras por seus respectivos conteúdos prefiro companheiro(a),pai, mãe, filho, neto, saudade e sonho.

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