Escrever é uma ciência.
Não creio que escrever difícil seja bem escrever.
Escreve bem quem se faz entender.
Acho ruim a leitura quando o leitor tem que usar um manual de instruções para entender o escriba.
Reconheço que o escrevinhador, como eu, que se utiliza de linguagem coloquial (aquele que utiliza a mesma linguagem na fala e na escrita), tem muito pouco prestigio.
Não raro, recebo elogios do tipo:
- Muito bom, simples, mas bom.
Traduzindo: este texto é muito simplório.
É claro que em escritos técnicos, principalmente na área do Direito, onde exerço a maior parte do meu trabalho, é necessária uma linguagem mais bem elaborada, com palavras guardando um ar mais erudito.
Vivi durante muito tempo em ambientes onde circulavam mestrandos e doutorandos em Direito.
Era muito divertido.
Objetivo não era objetivo, era desiderato.
Não existia introdução, mas escorço.
Acima virava supra, abaixo transformava-se em infra.
Petição (requerimento) inicial virava “peça pórtico”; exordial; peça introdutória, e outras bobagens afins.
Essas tentativas de falsa erudição se espalham em toda a sociedade. No edifício onde a Lourdes tem escritório, o primeiro pavimento está marcado no elevador com a letra maiúscula “A”, quando o normal seria “T” de térreo ou “1” de primeiro pavimento. Intrigado perguntei ao porteiro, e ele me respondeu, não sem ironia, “A” de átrio.
A loja da Varig que existia na Praça da Alfândega, aqui em Porto Alegre, resolveu colocar nas suas portas a expressão: “push”. Ora, “push” em inglês significa empurrar, enquanto o nosso puxe tem o significado exatamente inverso. Não precisa ser muito esperto para entender a confusão nas portas da loja. A companhia teve que alterar os cartões e colocar tudo em português.
Algumas inovações tecnológicas que vieram facilitar a vida dos profissionais podem, no entanto, trazer transtornos. Os advogados têm acesso ao andamento dos processos junto aos diversos foros. O problema é que o acesso é público. Daí que as partes também têm acesso, e a partir disso têm infernizado a vida dos bacharéis.
- Doutor, que maravilha, o meu processo terminou.
- Como terminou? O seu processo está com o juiz.
-Mas doutor o senhor não viu na internet que o processo está CONCLUSO.
O advogado passa duas horas do seu precioso tempo explicando para o cliente leigo que CONCLUSO, na linguagem forense, significa que o imóvel voltou para o juiz, não significando, com isso, fim do processo.
O causídico deveria dizer ao neófito que o feito tão-somente fora concluso ao emérito julgador para algum despacho de mero expediente, não se trata, contudo, extinção da lide, em linguage rebuscada.
Ou, como diria um presidente de um país sul-americano que o cliente do adeva deve esperar sentado num banquinho, pois o processo vai de morar para C....
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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