Um deputado gaúcho apresentou um projeto de lei para proibir a utilização de palavras estrangeiras em nosso cotidiano. É um direito dele, aliás, obrigação de apresentar proposições legislativas, de tal sorte a melhorar a qualidade de vida do povo.
Não existe língua morta, existe sim língua não utilizada no dia a dia. Os idiomas são dinâmicos, pois vão se transformando, e este andar nunca para. As pessoas vão incorporando novos vocábulos; vão modificando a forma de se expressar; e até, não raro, mudam as grafias, que são uma parte importante da língua.
Se as línguas fossem imutáveis, por certo ainda usaríamos a linguagem das cavernas, provavelmente um “ugue ugue” qualquer.
Não sou de todo favorável à incorporação de termos estrangeiros diretos na língua, principalmente quando existem termos bastantes no local para a utilização. Existem, no entanto, incorporação de novos entes, novas formas, novos materiais, enfim, coisas, fatos e pessoas novas que não tem na língua pátria uma forma de expressão. Uma das novidades foi o telefone celular. Os I-pad não receberam uma denominação em língua portuguesa. Até dentro do próprio idioma existem divergências. O brasileiro diz telefone celular, ou simplesmente celular; o português diz telemóvel.
Existem profissões que abusam do estrangeirismo, entre elas as de publicitários. Nenhum fala em campanha, mas case; nenhum diz cafezinho do intervalo, mas coffee break. Liquidação virou sale; saldo virou out-let; sanduíche de queijo virou cheese, e por aí vai.
Lembrei também algumas expressões que foram se modificando ao longo do tempo. Os plásticos, no final dos anos 50 e início dos anos 60, eram chamados de matéria plástica. O tênis era guides. A calça de mulher era slack.
Existiam marcas que davam nomes aos objetos. A geladeira era Frigidaire. A lâmina de barbear era Gillete. O utilitário militar virou Jeep. Alguns desses nomes foram incorporados à língua.
Voltando ao projeto do deputado, ele foi aprovado, indo agora à sanção do governador Tarso. Duvido que haja veto. Se houver, o assunto está resolvido. Se for sancionado, se tornará letra morta, com o perdão de eventual trocadilho, como tantas outras leis inúteis que estão por aí, tais como o acendimento obrigatório de faróis nas rodovias estaduais.
Quem sabe de outra feita ele apresenta um projeto proibindo os hospitais de deixarem as pessoas nas macas e/ou nos corredores esperando a “moça da foice”? Será muito mais útil.
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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2 comentários:
Quero ver como os causídicos irão postular justiça perante os magistrados sem usar as expressões latinas. Seria bem interessante postular a legalidade de um argumento utilisando expressões latinas, que de acordo com os Deputados agora são ilegais. Será que o magistrado acolhe? Ou será que prende o causídico por crime contra a lígua? Hein, hein?
Sabe que está diminuindo isso um pouco. A causa é que a nova geração não estudou latim. O pouco que eu sei foi na base do auto-didata. "Data máxima vênia", creio que não haverá maiores problemas.
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