domingo, 23 de janeiro de 2011

JONAS E OS CORNETEIROS

Sou sócio há mais de trinta anos do Grêmio Foot-ball Porto-alegrense. Tenho lá além de Título Patrimonial, um cadeira locada. Pago e não vou. Estou usufruindo do chamado peiperviu, daí que fico no meu cantinho assistindo o jogo em alto definição, distante não mais do que cinco metros da geladeira, e um pouco mais do banheiro de casa, o que cá entre nós é muito bom.
Mas um dos principais motivos que me levou a não ir mais ao estádio, são os corneteiros. Para quem não é chegada no linguajar futebolês, posso dizer que corneteiro é o sujeito que não entende nada de futebol, e fica falando mal do seu próprio clube. Se o clube vai mal mesmo ele fala que advertiu antecipadamente, se vai bem ele usufruiu, pois, afinal de contas, ele é gremista. Este tipo de sujeito chato fica transmitindo o jogo nas cadeiras, como se fosse um radialista. Quer a retirada de jogadores que entende estar jogando mal, quer mandar para a Coréia um jogador que não lhe agrada.
Os corneteiros não respeitam nem jogador bom, que é indiscutível por suas qualidades óbvias e consagradas, não só pelos experts, mas também, e, principalmente pelas estatísticas.
Neste fim de semana, um avante do Grêmio de nome Jonas, que foi o goleador do campeonato nacional, mas não por detalhe mas seis golos na frente do segundo colocado na artilharia, foi vaiado pelos corneteiros.  O jogador é muito bom, e se estivesse no Inter, a crônica gaúcha ia berrar até ele ser convocado para a seleção, mas como é do imortal, ninguém clama pela sua convocação, com o que eu já estou acostumado.
Alegam os corneteiros que ele perde muito gol. O que é verdadeiro. Esquecem que ele assim como perde gols, também os faz,  e muito acima dos outros jogadores, a ponto de ser o goleador do último nacional, disparado. Se fizesse todos os gols que perde seria um novo Pelé.  Mas ele não é Pelé, daí que perde mesmo alguns golos, mas faz outros, suficiente para, não raro, salvar a pele do seu time.
Pois nesse tal jogo ele perdeu a paciência, pois o jogo estava negativo para o Grêmio que perdia, e ele foi lá e empatou num bonito golo. Como não tem sangue de barata, se manifestou cobrando da torcida das sociais, especialmente, é claro dos corneteiros.  Pois as figuras, vingativas, continuaram vaiando, não é que  ele meteu o segundo golo numa cobrança de falta maravilhosa, esta sim digna do Edson Arantes. Ele reconhecendo que tinha exagerado na cobrança da torcida, não comemorou, num protesto silencioso.
Neste momento, só restava aos corneteiros uma atitude digna, ir embora, e de preferência não voltar mais.
Lembrei agora que eu tive também o meu momento corneteiro. Era a  primeira Libertadores que o Grêmio ganhou no Olímpico, eu  e Abelardo- um velho e querido amigo  que trabalha ainda no jurídico do Trensurb - estavamos no último degrau das sociais.
O Grêmio ganhava de um a zero e o jogo encaminhava para o final, quando o Penharol fez um golo. Pensei vamos ir para a prorrogação. O jogo já estava quase terminando quando o Renato Portaluppi, o atual treinador levou uma bola na linha de fundo, e fez um balãozinho, e tocou para a área. Eu no meu espírito de corneteiro, fiquei puto da cara, pois como ele iria desperdiçar uma chance desta dando um balão. Neste momento, Cesar entra como um bólido e cabeceia para as redes uruguaias. Eu não sabia se festejava ou botava a minha cabeça num buraco de vergonha. Ali terminava minha carreira de corneteiro, mas deixei, pelo visto, muitos adeptos. Infelizmente.

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