AS TERTÚLIAS DE LEONARDO

Tertúlia é uma reunião de amigos. O seu exemplo mais típico nos gaúchos são as reuniões em volta do fogo de chão, onde o "seio moreno" passa de mão em mão, onde se contam "causus", onde a viola (com ou sem cordas de espinho) canta as alegrias ou as tristezas de nossa gente.
Quem melhor cantou a tertúlia foi Leonardo, que ontem partiu, ou melhor, mudou-se, pois os poetas não morrem já dizia outro dia quando se pranteava um poeta uruguaio.
Começava a canção definindo a tertúlia como uma reunião em volta de uma chamarra, onde o mate(chimarrão) faz a roda. Falava das conversas que são como eco das vozes perdidas pelos campos, e de canções livres, numa esperança de um novo mundo (prenúncio de aurora) e livre.
Encerra em versos que ficarão para sempre em nossa memória e sacados a cada vez que se fizere injustiças.
"É o batismo dos sem nome rodeio dos desgarrados/Grito de alerta do pampa tribuna de injustiçados/
Tertúlia é o campo sonoro sem fronteira ou aramados/Onde o violão e o poeta podem chorar abraçados.
Por tudo isso, volto a afirmar que esta terra gaúcha está ficando mais pobre. Estamos perdendo nossos melhores valores escritores, poetas, compositores, professores, pensadores e cantores, e não estamos mais repondo.
Leonardo era uma bela pessoa, simples, exemplo de figura de bonachão, impossível não gostar dele. O vi ao vivo somente uma vez;num aniversário, onde somente escutei e pouco falei. Tive a sensação; - e talvez certeza - de que a sua figura era única, ou seja, era a mesma pessoa em público e no particular.
Certamente poderá ele ainda se banhar nas fontes, olhando os horizontes com Deus, e sentir que as cantigas nativas continuam vivas para os seus filhos, e ver lá de cima que o campo está florido, e que as crianças estão sorrindo, felizes a cantar, e nós aqui podendo mostrar, para quem quiser ver, um lugar para viver sem chorar.
Obrigado, Leonardo.



Ps: O último parágrafo é uma adaptação dos versos finais de CÉU, SOL, SUL - TERRA COR, uma de suas músicas mais bonitas. A expressão "seio moreno" foi criada pelo poeta Glaucus Saraiva, na poesia Chimarrão. Cordas de Espinho é uma linda música de Luiz Coronel e Marco Aurélio Vasconcelos.