Naquele tempo, nós todos éramos magrinhos, exceto um aluno mais alto e mais redondo. Ele se salientava naquela primeira semana devido ao fato de que ao terminar a chamada, ele levantava o dedo e dizia : - Professor(a) meu nome não está na chamada. Nada chamaria a atenção, se não fosse o fato dele ficar com as bochechas vermelhas, certamente causadas pela sua timidez própria daqueles 11 anos. Era o Juarez, meu eterno e querido amigo, cuja amizade trago com grande prazer já passados estes 42 anos. Tenho muito cuidado em chamar alguém de amigo, e neste sentido, eles são poucos, mas Juarez certamente é um deles. E, se eu distribuísse medalhas aos meus amigos, ele ganharia a Grã Cruz.
Hoje, o Juarez me mandou um mail onde tinha um filme com o Vigilante Rodoviário, personagem que eu praticamente não acompanhei, pois não tínhamos tevê em casa nesta época.
O meu primeiro contato com a televisão se deu na Rua Alexandrino de Alencar, no final dos anos 50 e no início dos anos 60. Eu a molecada da rua, íamos até o edifício Lapa, num apartamento térreo, e ficávamos vendo a televisão por um janelão de vidro que tinha ali. Claro que só víamos a imagem, nada de som, pois a porta ficava fechada. Nosso programa favorito era os Heróis do Oeste, patrocinado pela Toddy. A Toddy distribuía uniformes de “Patrulheiros Toddy”, e nós todos sonhávamos em ganhar um deles, mas não tínhamos a menor chance até por que não mandávamos os tais tíquetes do Toddy, aliás nunca tínhamos tomado o tal achocolatado.
Durante muito tempo, fomos o que se chamava “televizinho”. Íamos na casa do vizinho, na maior cara-de-pau na hora dos seriados famosos, os quais acompanhávamos como se a tevê fosse nossa. Assim, na base do peru de TV alheia se assistia as séries Perdidos no Espaço, Terra de Gigantes, O Túnel do Tempo e Missão Impossível.
Um programa para toda a família eram as lutas, inicialmente no Canal 5 a pioneira Piratini, e mais tarde na Tevê Gaúcha, Ringue 12. As lutas eram do tipo luta-livre, que a gente sabia previamente combinadas, mesmo assim era a nossa diversão, com os personagens como Fantomas, um mascarado de perna dura que foi o precursor por aqui do que chamávamos de caratê, mas que desta luta tradicional não tinha nada. Também se apresentavam outros personagens como Jangada, Scaramouche e outros menos lembrados. A gente se empolgava tantos com as lutas que um dia ou dois fui até o Ginásio da Brigada para assistir ao vivo.
Só em 1970, após começar a trabalhar (69), é que conseguimos comprar a primeira televisão. Era uma tevê enorme marca Semp, acho que tinha umas 30 polegadas ou mais. Ai então assistimos os programas do Flávio Cavalcanti, as Novelas da Tupi e depois as da Globo. Mas, o primeiro grande programa, sem dúvida foi a Copa de 70, que inaugurou não só a tevê para nós como também em nível de Brasil as transmissões via satélite, que denominaram Via Intelsat.
Bem oposto, já em vacas mais gordinhas, e sete anos após, comprei minha primeira tevê em cores, marca Sharp, a vista. Tinha 16 polegadas, e para os padrões da época uma imagem maravilhosa.
Um episódio engraçado inaugurou minha primeira partida de futebol na televisão colorida: o Corinthians paulista tentava depois de vinte anos o campeonato regional, contra exatamente a Ponte Preta de Campinas. Ora, eu inaugurava a minha tevê colorida com um jogo de dois times preto e branco. Não fique decepcionado pois pelo menos via o campo todo verdinho.
Acho graça das pessoas que desdenham e repudiam a televisão. Considero uma das maiores e mais democráticas invenções de todos os tempos. No meu entendimento, rivaliza com a computação como a maior invenção dos últimos cem anos.
Acho que, se investigarmos esta gente que diz não gostar da telinha, vamos achar um telemaníaco que tem medo do próprio vício.
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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2 comentários:
É em lágrimas que hoje faço meu comentário,pois lembro cada detalhe colocado aqui como se estivesse revivendo novamente este tempo.
Quem hoje repudia a TV ,com certeza, nunca em criança teve que voltar prá casa triste com vontade de assistir mais um pouquinho e sem entender direito as condições que tínhamos,melhor,isto nos fez as pessoas que somos hoje,pois afinal, compreendemos sim e muito bem o por quê e aceitamos. Deus existe.
Não poderia deixar de mandar um comentário sobre esse assunto.Hoje quando a imagem fica tremida na tela,nos irritamos,mas quando olhavamos pela tv do vizinho sem som,achavamos o máximo.Agora ainda mato a vontade de assistir e lembrar dos seriados que curtia na minha época de infancia.Na sky assisto a serie JEANNIE É UM GÊNIO(adoro),TERRA DE GIGANTES ,um dos meus favoritos,pena que nao dá na sky,com certeza gostaria muito de assistir!PERDIDOS NO ESPAÇO(gosto muito)todos esses eu curtia muito assistir!repetecos e repetecos e eu firme na tela!Por isso quando ouço falr nestes tempos fico com coração partido !!!!emocionado!Podem até achar bobagem,já estou acostumada com isso!MAS QUE GOSTO.......GOSTO MESMO E NÃO POSSO NEGAR!!!!!BJS
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