Esses dias me perguntaram: o que você tem contra os intelectuais? Respondo: nada, deste que eles saiam da frente do espelho.
O estereótipo do intelectual era o sujeito que tinha uma biblioteca no mínimo razoável, que se vestia sobriamente, usava óculos, não raro fumava cachimbo ou charuto, tinha a imparcialidade, a sensatez, a honestidade e conhecimento universal como marcas registradas de sua personalidade.
Pois, nestes tempos modernos houve uma alteração no tipo. Os atuais intelectuais fazem questão de parecer diferente nas opiniões; fazem gosto de ser sempre contra nas questões mais simples; são donos da verdade; ficam irritados quando alguém lhes contraria, e, principalmente, extremamente irados quando alguém tem a ousadia de demonstrar superioridade em matéria de inteligência.
No exame das obras alheias, são críticos ferozes; de outra banda, elogiam com a maior cara dura suas próprias obras. Tem ódio mortal a quem faz sucesso, não poupando chumbo grosso contra quem consegue êxito na venda de suas obras.
Quanto aos autores clássicos costumam defender somente os estrangeiros, não poupando nem a obviedade de Machado de Assis. Não levam em conta que as obras clássicas foram escritas em outros tempos, e que, portanto envolviam valores dos seus respectivas épocas. Nessa linha, José de Alencar – o coitado – leva bordoada de tudo quanto é lado.
Eles não se dão conta que existem obras que se não são boas para eles, como também podem não ser boa para mim, mas que o são para determinado público, e que, portanto, elas têm algum valor, embora restrito a um nicho do mercado editorial.
Livro é como tevê: se não gosto do programa, mudo de canal, se o livro não me interessa, não leio. Por que vou ficar malhando um livro que não vou ler? Tem gente que nunca leu um livro do Paulo Coelho e fica criticando. Eu li Brida e a metade do Diário de um mago e não gostei. Posso criticar, pois li e não gostei, mas tenho que respeitar a quem gosta.
Estes tempos, escrevi para um destes intelectuais da praça fazendo um comentário irônico sobre alguma coisa que ele tinha escrito, e ele recebeu a minha manifestação não como ironia, mas como se eu realmente pensasse daquela forma, e me queimou. O dito cujo acha que tem o monopólio da ironia e da irreverência.
Hoje em dia, se faz muita confusão entre a irreverência, que é um atributo muito interessante, com grossura. Vejo muito este tipo de manifestação na tevê e no rádio. Quanto eu vejo, costumo mudar de canal ou de estação. Se todos fizessem assim já teríamos nos livrado de muitas destas malas.
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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