Era uma casa de madeira pintada de verde escuro. Incrivelmente, as paredes inte
rnas também eram verde. Ficava no quarto distrito de Viamão. Morei lá de 1962 a 1975.
Naqueles dias de chuva, a gente não saia para a rua. O que fazer não tinhamos televisão, muito menos jogos eletrônicos, e menos ainda internet?
Era o único menino na casa. Não tinha qualquer brinquedo. Ou melhor, para uma criança com alguma criatividade o que não falta é brinquedo.
Tomava emprestado uma coleção de botões que a minha tinha (ela costurava).
Como a caixa era de botões de sobra, que serviam de reserva, ali tinha de todo tipo.
Botões grandes, pequenos, chatos, gordos, e até alguns botões de japona ou capa de chuva compunham a grande coleção, centenas deles. Para quem não sabe o que é japona, posso dizer que é um casaco grosso de lã, geralmente azul-marinho, com grandes botões dourados, quase sempre com a figura de uma âncora.
Eu deitava os botões no assoalho de madeira encerada, e os distribuia sob a forma de pelotões, companhias e batalhões como um exército, tal como via nos filmes de guerra, quase sempre - ou sempre - a II Grande Guerra. Quando a moda eram filmes de romanos, como nós chamávamos os filmes de época do grande Império Romano, eu transformava as tropas em falanges.
É claro que o botão da frente era um de japona, flamante dourado, fazia a figura do centurião, que no caso do exército era o capitão comandante da companhia.
O estranho é que somente fazia as formações marciais, mas não os botava a combater. Acho que era militarista, mas incrivelmente não era, e não sou belicista. Não havia guerra. Era somente apresentação, tal como se fora um desfile cívico.
Eu nunca tive companhia para estes brinquedos. Nunca dividi meu botões com ninguém. Que fim será que tiveram eles? Será que minha mãe ainda os guarda em algum lugar. A verdade é que não tenho coragem de perguntar.
Hoje, mesmo distante daqueles meus saudosos botões, ainda fico com eles - os botões por aqui, remoendo a vida.
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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