“De memória de guarda da fronteira, nunca, tal se viu. Este é o primeiro viajante que no meio do caminho pára o automóvel, tem o motor já em Portugal, mas não o depósito da gasolina, que ainda está em Espanha, e ele próprio assoma ao parapeito naquele exacto centímetro por onde passa a invisível linha da fronteira. Então, sobre as águas escuras e profundas, entre as altas escarpas que vão dobrando os ecos, ouve-se a voz, entre as altas escarpas que vão dobrando os ecos, ouve-se a voz do viajante, pregando aos peixes do rio:
-Vinde cá, peixes, vós da margem direita que estais no rio Douro, e vós da margem esquerda que estais no rio Duero, vinde cá todos e dizei-me que língua é a que falais quando aí em baixo cruzais as aquáticas alfândegas, e se também lá tendes passaporte e carimbos para entrar e sair.”
Se você é chegado na literatura lusa, já descobriu: trata-se de José Saramago, in SARAMAGO, José. Viagem a Portugal. São Paulo, Cia das Letras, 1997.
Saramago apresenta um formato de escrita de tal sorte interessante, que a gente, de tão admirado pela escrita, não raro, nem liga para o conteúdo, o qual também é admirável.
Quase sempre irônico como no texto acima, onde desdenha a fronteira Portugal-Espanha, trazendo os peixes ao diálogo, como uma forma de dizer que tudo, como a língua, não faz qualquer diferença entre os povos, ele é verdadeiramente um mestre da literatura, e mereceu o Nobel que recebeu.
Corra à feira e compre qualquer coisa, se possível Saramago.
Busque EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO, JANGADA DE PEDRA, ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA, entre outros.
Não faça ilações: não recebo comissão do patrício.
José Osnir
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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Um comentário:
Aqui você é o bom escritor... e eu sou a boa leitora... nova assídua de seu blog... diariamente estarei aqui para ler suas postagens!
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