ANOS 70 – UM CERTO GIBRAN E AS CRÍTICAS
Por certo as leituras de Hermann Hesse e Gibran Khalil Gibran fizeram parte de suas leituras na juventude. Falo dos anos 70.
Estava há poucos minutos relendo algumas folhas de um livro de Gibran chamado o PRECURSOR que recebi de presente em 1975.
Uma das histórias ali contadas tem o título de “Críticos”.
Uma vez, ao cair da noite, um homem viajando a cavalo em direção ao mar, chegou a uma estalagem à beira da estrada. Desmontou e, confiante nos homens e na noite, como todos os cavaleiros que vão para o mar, amarrou seu animal numa árvore ao lado da porta, e entrou na estalagem.
A meia-noite, quando todos dormiam, veio um ladrão e roubou o cavalo do viajante.
Pela manhã, o homem acordou, e descobriu que seu cavalo fora roubado. E, lamentou-se pelo seu cavalo, e pelo homem que havia escolhido de ser um ladrão.
Então, seus companheiros de hospedagem vieram e puseram-se à sua volta, e começaram a conversar.
E, o primeiro homem disse:”Que tolice a tua, de amarrar teu cavalo fora do estábulo!”
E, o segundo disse: “E pior ainda, nem mesmo peou o cavalo!”
E, o terceiro homem disse: “É o máximo de estupidez, viajar para o mar a cavalo.”
E, o quarto disse: “Só os indolentes e os de pés vagarosos possuem cavalos.”
Então, o viajante ficou admirado. Finalmente, gritou: “Meus amigos, porque meu cavalo foi roubado, apressai-vos todos a enumerar meus defeitos e minhas limitações. Mas, coisa estranha, não pronunciastes uma única palavra de reprovação contra o homem que roubou meu cavalo.”
A nossa vida está cheia de críticos. Eles se importam tão-somente em gizar nossos defeitos, esquecendo de verificar nossas razões; nossas causas; nossas motivações; e, principalmente: nossas circunstâncias.
Calma lá: eu sei. Nada mais chato que o crítico da crítica. Mas, aqui estou com Gibran o defeito maior está no desvio de conduta do ladrão, e não em minha eventual negligência.
O mesmo se aplica no nosso dia-a-dia é muito mais fácil culpar a vítima.
Quantas vezes você viu uma pequena criança ser xingada pela mãe por ter tropeçado e caído? A pobre criança é castigada duas vezes: uma por ter tropeçado, e , eventualmente até ter se machucado; a duas pela própria mãe que lhe castiga verbal ou até mesmo fisicamente.
Não raro, em casos de estupro, a vítima é acusada de ter provocado o criminoso.
Ora, você deu sopa, senão o ladrão não tinha levado o cavalo!
Nada mudou neste mundo nas últimas centenas de anos...
Um abraço
José Osnir
Existem duas pessoas inviáveis dentro de mim: a primeira, a que os meus inimigos imaginam; a segunda, a que os meus amigos propagandeiam.
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