quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ADEUS IMORTALIDADE

Youssef vivia ali naquele subúrbio de Londres, onde o Rio Tâmisa serpenteia mais um de seus maravilhosos sinos. A sua habitação era uma casa de tijolos à vista, geminada com outras tantas, como sói acontecer por ali. Na frente, uma escada antecedida por dois pequenos postes com luminária. Lá ficava no seu quarto, junto à estante abarrotada de livros, onde graçavam Dostoiveski, Nietszke, Eça de Queiroz, Tolstoi, Shakespeare, e até alguns brasileiros como Graciliano Ramos e Euclides da Cunha.
Ele sempre foi um conservador. Assim o era na maneira de vestir, no jeito de falar, e até na forma de se comportar. Sapatos marrons, combinando com o cinto, calças frisadas, e o indefectível casaco tweed. Sem contar o pequeno lenço na lapela e o chapéu de aba curta que o tornam um típico inglês, apesar da nítida ascendência do Oriente Médio.
Enquanto fumavs seu cachimbo curvo, como aquele celebrizado pelo célebre personagem de Conan Doyle, bebericava um cálice de vinho tinto, à temperatura ambiente: alguns graus Fahreneit, ia pensando na vida que já se tornou longa.
Pensa no tempo em que sonhava com a imortalidade. Viver para sempre, afastando definitivamente a idéia da morte. Lançava, porém, o seu olhar para a Origem das Espécies, obra que projetou Charles Darwin, e retornava à terra, pois a natureza é por demais sábia para permitir este tipo de exceção.
As gerações se sucedendo, sem que fique aqui para sempre qualquer individuo, é idéia genial. Com a passagem do tempo, os costumes vão mudando. O que não era possível quando a gente é criança, hoje pode ser muito natural. A evolução dos costumes, por exemplo, é muito acelerada: mal nos acostumamos com uma idéia até então pouco ortodoxa, e logo, a seguir, já temos uma nova fronteira rompida. Nem sempre este tipo de alteração é benéfica.
Youssef sabia disso como ninguém. O problema é que não tinha o hábito de comentar nada sobre isso. As patrulhas ideológicas estavam ( e estão) em todos os cantos do UK. Isso mesmo, a censura a quem se opõe aos novos costumes alcançam a linha da ideologia, “latu sensu”, não restrita à política, mas também aos usos.

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