sexta-feira, 25 de abril de 2008

FUTEBOL?SÓ O IMORTAL TRICOLOR.

Em setembro de 1953, chegávamos a Porto Alegre. Eu com apenas 10 meses, meu pai e minha mãe com meros 21 e 15 anos de idade, respectivamente. Nos instalamos no que hoje chamaríamos de zona sul da cidade. Na época, simplesmente arrabalde da Glória. Nossa casa ficava na Rua Caldre Fião.
Ninguém sabia quem fora Caldre Fião. Anos mais tarde, através do meu saudoso amigo Dr. Sérgio Ferreira, amante e colecionador de livros raros, descobri que Caldre Fião escreveu o primeiro romance no Rio Grande do Sul. A Divina Pastora era o título da obra, a qual se manteve desaparecida por muitos anos, não se tendo notícia, até então, de qualquer exemplar, pelo que o seu valor no mercado de livros raros era incomensurável. Ele teria escrito o romance em
1847, sendo que dita obra durante muitos anos era tida como lenda. Em 1992, um volume foi encontrado em Montevidéu, adquirido pela RBS que o reeditou. A obra tem mais valor
histórico do que literário.
No parágrafo acima, me empolguei falando de Caldre Fião, mas o assunto hoje é outro. Meu pai e minha mãe, ao chegarem a Porto Alegre optaram em torcer para o Grêmio Futebol Porto-alegrense, e assim eu também assumi o tricolor, o mesmo fizeram minhas irmãs que me seguiram Ivanir e Ivone, e o meu irmão que chegaria somente em 1967, o Alfredo. O engraçado é que os cônjuges dos filhos de Anselmo e Zenoir foram (e são) todos colorados.
Em nível de pilhéria, e trocadilho maldoso, eu costumava dizer que a “legião estrangeira” é toda
vermelha, e que esse “bem” não se comunica nos casamentos da família Vaz.
A minha relação com o futebol é muito especial, pois costumo dizer que não gosto do esporte, eu gosto mesmo é do Grêmio. Como isto se explica? É fácil, basta um pequeno exemplo: jogo da seleção brasileira não me dá sensação alguma, salvo em copas do mundo. Se assisto uma final de campeonato brasileiro entre Corinthians e Flamengo é bem provável que eu durma no sofá, antes de terminar o primeiro tempo. Jogo do Grêmio, o tricolor faz um gol no primeiro minuto, já quero que o jogo termine. Em suma, o chamado espetáculo do futebol não me interessa.
Sou um fanático pelo Grêmio? Acho que não, pois não costumo chutar portas quando ele perde, nem saio pulando pela casa quando ele faz gol. Não ponho bandeira na janela, nem saio a desaforar vizinho colorados quando o Grêmio ganha, ou quando o time deles perde. Já assisti
Grenal no meio da torcida do Internacional, tendo o meu time ganho de um a zero, consegui comemorar o gol em silêncio.
Não costumo ir a todos os jogos, embora tenha uma cadeira locada. Não gosto de ir sozinho. Quando vou e o Grêmio faz um gol, tão-somente fico rindo de contente; quando acompanhado, levanto um braço em comemoração e cumprimento o meu acompanhante.
Também gosto muito de secar o adversário. Na linguagem esportiva, secar significa torcer para que o adversário tradicional perca. Verdadeira ave de rapina a espera de um nova e abundante refeição. Gosto mais de torcer pelo Grêmio ou secar o adversário vermelho? Lourdes acha que
mais seco do que torço. Entendo que não procede, pois jamais deixaria de ir a jogo do imortal tricolor para ir secar os vermelhos, embora isto me dê muito prazer.
Circulo bem entre os colorados. Sempre tive mais conhecidos na diretoria do Internacional que do Grêmio, uns até que poderia chamar de amigos. Nos vermelhos, posso citar como pessoas de minhas relações a Fernando Záchia, Marcelo Feijó e Eraldo Hermann, os dois últimos já falecidos. Quanto ao futebol em geral, acho que existe uma cobertura exagerada, um foco concentrado sem qualquer justificativa.
As emissoras de rádio de Porto Alegre gastam muitas horas de sua programação transmitindo notícias dos clubes sem qualquer relevância.
Por último, uma das coisas que mais me aborrece na crônica esportiva de Porto Alegre é o jornalista ou cronista não declarar publicamente o clube de sua preferência. Por que é assim? Os cronistas de outros Estados da Federação declaram abertamente o clube para o qual torcem, sem qualquer problema. Aqui se adotou esta fórmula boba, sem qualquer justificativa. Eles imaginam
que se houver a declaração da preferência clubística os seus comentários e pareceres poderão sofrer críticas pela sua parcialidade. Em outros estados isso não ocorre, neles quase todos os jornalistas e/ou radialista anunciam publicamente. Na crônica esportiva gaúcha existe um mistério, pois ela é composta de 90% de colorados e somente 10% ou menos de gremistas. Até hoje não consegui descobrir a causa. Existe neste campo um grande mistério. Na RBS onde quase toda a diretoria é gremista, principalmente os donos NELSON e PEDRINHO, são raros os cronistas ou jornalistas gremistas. O Grêmio segundo as estatísticas teria 60% da torcida e os
colorados 40%, o que não se reflete na crônica. Nas rodas esportivas de debates esportivos, não raro, 100% são colorados. Para um gremista assisti-las tem que ter um veia de masoquista. Por outro lado, o gremista mais famoso se comporta de forma prejudicial ao Grêmio, pois está sempre prever catástrofe. Quando elas efetivamente acontecem diz eu disse que iria acontecer, ou seja se locupleta até da desgraça do tricolor. Por outro lado se o Grêmio se dá bem, aproveita e festeja como torcedor, invade campo, toma microfone e faz discursos laudatórios. Os cronistas colorados não procedem assim, pelo contrário são muito unidos, adotam atitudes ensaiadas, ou seja dizem todos a mesma coisa, a proteger os interesses do time de seu coração, especialmente nas situações de dificuldade dos vermelhos.
Em suma, gosto do esporte, limitado, entretanto, aos limites dele e de sua importância. Jamais será razão de vida; jamais será razão de briga ou de qualquer tipo de violência; sempre razão de prazer e de boas emoções. Só!

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