domingo, 24 de maio de 2009

INCORRIGÍVEIS

Eu, como todos os brasileiros, sempre me diverti com a soberba dos argentinos. Todas as piadas giram em torno de que os hermanos se acham o dono da cocada preta. Número enorme de pequenas histórias ilustram o que estou dizendo. Entre elas é a que conta a passagem que um argentino vendo os relâmpagos que iluminam o céu disse: é Deus me fotografando. Tem também aquela em que o menino argentino diz para o pai: você é um sujeito muito importante. O pai estufa o peito, e indaga de seu filho – Por que você diz isto. Responde o infante de bate pronto: - Por ter me trazido ao mundo!
Apartando as brincadeiras, há algum tempo ganhei um livro muito interessante que estou a reler chamado O ATROZ ENCANTO DE SER ARGENTINO. O autor é MARCOS AGUINS. Tem orelha do jornalista Sérgio Abranches. A minha edição conta com um belo prefácio de Pedro Malan, em 2002. Pois, se você quer conhecer um pouco da gente argentina leia o livro.
A minha presença em terras argentinas se resumia à pequena Paso de Los Libres, onde pisei pela primeira vez em solo estrangeiro em 1977, e outras duas visitas. Paso de Los Libres fica do outro lado da ponte internacional em Uruguaiana. Estive lá ainda há pouco tempo quando minha filha Gabriela assumiu como defensora pública naquele município. Notei uma grande evolução tanto no lado brasileiro, quanto no lado argentino. Paso saiu de uma pequena vila para uma bela cidade de porte médio.
Em 2006, saímos de Porto Alegre, em direção ao Chuí brasileiro, depois ao Chuy uruguaio, dormimos em Punta Del Este, sendo que no dia seguinte fomos até Montevidéu, onde também dormimos. Eu já conhecia Montevidéu, cidade que eu gosto muito. Dali seguimos direto para a Cidade de Colônia do Sacramento, onde passamos o dia e a noite. A estrada entre Montevidéu e Sacramento é muito boa. Dali atravessamos, com carro e tudo, para Buenos Aires.
Não recomendo a ninguém fazer o que fiz, ou seja, atravessar de carro. Se alguém imitar o nosso caminho, que deixe o carro em Colônia do Sacramento. A primeiro, que você não precisa de carro em Buenos Aires, e, a segundo, que na Argentina não convém brasileiro andar de carro.
Fizemos um tour completo em Buenos Aires, incluindo todos os pontos famosos, é claro pulando alguns deles, pois não se pode conhecer tudo numa viagem só.
Falando em carro, nós fomos num Peugeot preto 206 1.4 que eu tinha. Resolvemos ir até o Cemitério da Recoleta, onde está o túmulo da Evita Perón. Lá é comum que os caixões fiquem expostos para que todos os visitantes o vejam.
Lourdes disse que não devíamos gastar com estacionamento, aí fiquei procurando um lugar para estacionar, o que efetivamente fiz, nos fundos do cemitério. Tratava-se de uma avenida muito movimentada. Verifiquei que, na rua de mão única, tinha avisos de proibido estacionar do lado direito. Pensei: não tem no lado esquerdo, logo é possível o estacionamento ali. O meu pensamento se confirmava com a existência de um container estacionado.
Visitamos todo o cemitério, e fomos buscar o carro para voltar ao Hotel. Surpresa! Nada de carro. Logo percebi que tinha sido guinchado. Parei um táxi e perguntei se ele conhecia o lugar para onde levavam os carros. O motorista respondeu que sim, e efetivamente nos levou até lá. Lá chegando, avistei logo o “pretinho básico”. Paguei o guincho e saí feliz com o carro recuperado. O custo saiu uns R$56,00. Por aqui um guincho teria cobrado R$500,00.
Se eu já tinha descoberto que não era negócio ir de carro, agora, depois desta, é que não entro lá de carro de jeito nenhum.
Nesta estada de uns quatro dias cheguei à conclusão de que Buenos Aires é a coisa mais parecida com a Europa que eu já vi. É uma cidade maravilhosa. Ou seja, pelo menos um motivo os argentinos têm para se orgulhar.
Nesse livro, que citei existe um pouco do pensamento de Jorge Luis Borges extraído de EL TAMAÑO DE MI ESPERANZA (1926). Diz assim: “Mi argumento de hoy es la pátria: lo que hay en ella de presente, de pasado y de venidero. Y conste que lo venidero nunca se anima a ser presente del todo sin antes ensayarse y que ese ensayo es la esperanza. Bendita seas, esperanza, memoria del futuro, olorcito de lo por venir, palote de Dios”.
O capítulo do livro que trata do peronismo é imperdível. Conta que os próprios peronistas riem da aguda afirmação de Borges, no sentido de que eles (os peronistas) não são nem bons, nem maus: são incorrigíveis. Acrescentaria eu: não só os peronistas são incorrigíveis, mas os argentinos em geral.

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